FUMAÇA
Qual a magna questão que, neste fim de semana, mais inquietou os media? Saber se foi o ministro que deu ordens para a carga da polícia em São Bento. Manchete do Expresso, letras gordas por toda a parte, telejornais uns atrás dos outros, um sururu dos diabos.
O IRRITADO atreve-se a perguntar: o que é que isto interessa, e a quem? É evidente que o responsável máximo pela carga é o ministro da tutela. Tenha ou não tenha dado, pessoalmente, ordem para tal. Notícia seria que, tendo o ministro dado ordem em contrário, a polícia tivesse carregado na mesma. Ou vice-versa.
O comissário, ou coisa que o valha, da PSP, encarregado das relações com os media, portou-se como um leão: “a ordem veio da cadeia de comando”. Perante a insistência da bestialidade jornalística, disse: “a ordem veio da cadeia de comando”. Como quem diz: vão àquela parte. Muito bem. Chapeau.
Coisa que não impediu a manchete do Expresso et alia.
Estupidez? Não é de crer. A coisa tem que interessar a alguém.
Se atentarmos nas abalizadas opiniões que por aí andam, não será difícil. Ondas de indignação são dadas à estampa e ao monitor sobre a carga ter sido “indescriminada”. Isto é, pela primeira vez na história das democracias ocidentais dever-se-ia ter assistido a uma criteriosa escolha dos tipos a zurzir. Portanto, a carga nenhuma. Dever-se-ia ter assistido à imediata chegada de inúmeros advogados à esquadra, a fim de dar cumprimento aos direitos dos cidadãos, gravemente ofendidos pela polícia. Não consta que seja que detido for tenha sido privado de advogado. Que interessa isso? Então, e a prontidão?
Parece que havia só uns trinta vândalos. As outras centenas de indivíduos estavam lá por acaso. Para ver as vistas. Alguns até achavam mal o vandalismo! Alguns até disseram que estavam lá porque eram da manifestação da CGTP, portanto do PC, outros que eram do BE. Mirones, poucos. Na generalidade, eram todos da greve geral, coisa tida, até pelo governo, por ordeira, civilizada, “cidadã”. Oficial e oficiosamente, da malta dos sindicatos, nem sombra! Uma maravilha.
Na matéria, o PC tem sido mais moderado. O BE, esse, grande defensor dos “direitos humanos”, mesmo instado, nem o vandalismo condenou. Ainda ontem, o Fazenda, apertado na TV, não conseguiu dizer uma só palavra de desagrado ou de condenação. Fugiu com o rabo à seringa que nem um macaco do Jardim zoológico.
Também se devia analizar o que diz a propaganda generalizada: foram os tipos do Benfica e do Sporting, foram os anarquistas, foram uns turistas estrangeiros.
Por tudo isto e muito mais se pode ver a quem interessa a fumaça do “Expresso” e quejandos. Nem vale a pena explicar.
18.11.12
António Borges de Carvalho