SOARES AO ATAQUE
Umas semanas antes do golpe de Estado constitucional perpetrado por Jorge Sampaio para pôr a esquerda no governo, dizia-me um amigo que, dadas as sondagens, a dissolução da AR seria necessária e legítima. É claro que nos desentendemos.
Ao passar, excepcionalmente, os olhos pelo excerto do artigo de Mário Soares no DN de ontem, publicado pelo Sapo, vejo retomado o extraordinário argumento do meu amigo. Com uma nuance, talvez mais “democrática”: Soares acha que o governo se devia demitir, não que outra golpada seja protagonizada pelo PR. Ou seja, acha que é a melhor altura para abrir uma crise política. O que se compreende, se olharmos para as sondagens, que dão ao articulista a esperança de repor o PS no poder. A mesma filosofia de Sampaio, sem tirar nem pôr. À boa maneira socialista, os fins legitimam os meios, não é?
As sondagens justificam tudo: se o ou os partidos do governo, estão minoritários nas sondagens, o governo tem que se ir embora. É por estas e por outras que, por cada governo espanhol das últimas três décadas, nós tivemos uns quatro ou cinco. Quanto ao amor à “estabilidade” política, estamos conversados.
Mas há mais: é da natureza do regime que os governos legítimos o são por um período determinado. O princípio geral é que, a ser substituídos, o devem ser por decisão eleitoral ou por impedimento do PM, neste caso, estando a legislatura a correr, respeitando os últimos resultados eleitorais. Nunca por sondagens. É da natureza destas dar meras indicações. Se, nos países democráticos, os governos que estão em queda em sondagens se demitissem, havia, nestes dificílimos tempos, eleições todas as semanas nalgum país europeu. Lindo.
Quantas vezes estiveram os governos de Soares em queda nas sondagens? Quantas vezes Soares se demitiu por causa disso?
Ninguém duvida que Soares deitou ao lixo alguma réstia de bom senso que ainda insistisse em ocupar-lhe as meninges. Há quem diga que é da idade. Não é. O homem é mesmo assim. Para ele, o que está certo é o que lhe convém. E o que lhe convém tem a ver cosigo e com os seus. O resto que se lixe.
21.11.12
António Borges de Carvalho