NÃO SE PERDEBE
Ao que se lê por aí, parece que a coligação propôs aos 3,01 partidos da oposição (0,01 é o do partido melancia) realizar um debate, primeiro público, depois parlamentar, este com os ministros de cada pasta, tudo seguido por três debates no plenário, tendo como objectivo discutir e votar propostas concretas sobre como “mudar o modelo” de Estado.
Estulto seria pensar que os partidos comunistas (2,01) aceitassem tal proposta, já que não aceitam nenhuma. Sairia do “modelo” que têm em vigor.
Já em relação ao PS, auto proclamado partido democrático, partido de diálogo, partido tolerante, partido construtivo, etc. e tal, a recusa parece estranha, isto porque não faz parte do soi disant “modelo” da organização. Da formulação da proposta, concluiu a agremiação que se trata de discutir cortes e mais nada. Também podia ter concluído que se tratava de se debruçar sobre o formidável problema da época da lampreia, questão que também se pode, com toda a lógica, extrair da proposta da maioria.
Nada disto espanta, dada a forma prestimosa como o PS, ou se queixa de não ser ouvido, ou recusa ouvir quando a maioria se propõe falar com ele. Isto, na opinião do oco e dos seus apoiantes, deve derivar da impecável postura dialogante e verdadeiramente democrática que anima as hostes. Percebe-se.
O que não se percebe é a posição assumida pela Excelentíssima Senhora Dona Doutora Presidente do Parlamento, que se opôs à iniciativa com o argumento da necessidade de consenso de todas as bancadas para andar com a coisa para a frente. Sabendo, à partida, que jamais tal consenso seria possível, foi uma forma sibilina de dar cabo do assunto, quiçá valendo-se de algum penduricalho regimental.
Assim vai o diálogo, o debate de ideias, a democracia em Portugal.
Não se diga que o IRRITADO é um entusiasta de iniciativas do tipo da da maioria. Não é. O IRRITADO prefere o exercício da autoridade e do poder, desde que legítimos, à discussão permanente e à tergiversação na tomada de decisões. Coisa que, infelizmente, é, por motivos internos e externos, pecha deste governo.
O quer não quer dizer que a posição da senhora presidente tenha algum merecimento. Afinal, o que anda ela a fazer por lá? A promover o diálogo e o debate das ideias, ou a limitá-lo e impedi-lo?
7.12.12
António Borges de Carvalho