RACISMOS
Anda, e com toda a razão, o mundo inteiro impressionado com a fotografia de um homem a dois segudos de ser trucidado pelo comboio do metropolitano não sei de onde, na América.
Segundo a imprensa, nacional e internacional e de todas as cores tamanhos e feitios, aconteceu que o infeliz estava na plataforma da estação à espera de transporte, como mais uma data de gente. Tudo normal. Eis senão quando, outro homem, zás!, dá-lhe um encontrão e espeta com ele na vala da linha. A fotografia mostra os esforços desesperados do agredido para saltar cá para fora. Não conseguiu. E lá vem o “cavalo de ferro” dar-lhe cabo dos costados. Ali morreu, estraçalhado, como um cão na auto-estrada. Com a agravante de saber que ia ser estraçalhado e que nada podia fazer. Imagine-se a aflição que sentiu nos segundos que antecederam ter deixado de sentir fosse o que fosse.
Indo um pouco mais longe, diga-se que o assassino era preto e o assassinado asiático.
Agora, imagine-se o que aconteceria se o assassino fosse branco e o assassinado preto. O que se escreveria na imprensa internacional, sobretudo na americana. Mais uma manifestação de tenebroso racismo! Uma prova provada de que, nos Estados Unidos, a persegição aos pretos continua ao nível dos tempos da escravatura! Uma demonstração dos ódios primários e criminosos que “governam” a sociedade americana. Um sinal claro das consequências do neoliberalismo, do egoísmo levado ao extremo pelos exageros do individualismo capitalista! Durante semanas, ouviríamos psicólogos, sociólogos, politólogos, psiquiatras, enfermeiros, locutores, vizinhos, primos da empregada doméstica, escalpelizando o fenómeno, por unanimidade considerado exemplo marcante de uma sociedade dividida e traumatizada. Os boaventuras sousas santos, por esse mundo fora, aproveitariam para propagandear os seus estudos, as suas brilhantes asserões, conclusões e opiniões.
Mas, raio de azar, o assassino era preto e o assassinado asiático. A coisa passou rapidamente a fait divers, e já pouco se fala nisso. A não ser, é claro, que o assassino é bi-polar, que teve “uma branca”, que o encontrão foi casual digam as testemunhas o contrário ou não, etc. por aí fora. Ainda acaba por ter atenuantes, dado o facto de ser preto. Ou por ir parar, absolvido, a uma cómoda instituição.
Não me canso de pensar que são da mesma raça os que se podem cruzar. Na humanidade, como na caninidade, há uma só raca, com algumas variantes. Cruzamo-nos, se nos apetecer. As distinções não são de raça, são de caracteres secundários. Não se negue que há, ou haverá sempre, diferenças culturais e civilizacionais que dificultam a convivência, às vezes com indesejáveis consequências. O que não quer dizer que se trate os assuntos com critérios de moda, de perseguição, ou de acicate de maus sentimentos. Que é o que acontece.
10.12.12
António Borges de Carvalho