TAP
Para o IRRITADO a existência de empresas do Estado é uma contradição nos termos. Há uma regra do senso comum e tradicional, aliás vertida em lei, que reza que “ninguém é bom juíz em causa própria”. Fácil de perceber, não é? É por esta tão simples razão que o Estado jamais devia ser proprietário daquilo a que há quem chame “meios de produção”. O Estado, como qualquer outra entidade, não está em posião de se fiscalizar a si próprio, nem tem altura moral para “regular” e vigiar outrem, já que ele mesmo é parte do outrem. Um juíz não pode julgar os irmãos, os filhos ou os pais, por exemplo. Ou seja, ao meter-se na vida económica como agente interessado, o Estado demite-se da sua legitimidade para fiscalizar os demais. Simples.
Mais que não seja por esta razão, acha o IRRITADO que todas as privatizações são, por natureza, bem vindas.
É evidente que há bens que, por ser monopóios naturais ou marcadamente do interesse geral, podem, ou devem, ser objecto de cuidados especiais e sua nua propriedade não deve ser objecto de privatização. Nestes casos, porém, ou a sua gestão deve ser, por regra, concessionada, reversível a prazo, ou cair-se-á nos mesmos vícios, comuns a todas as empresas públicas.
Feita esta declaração de interesses (está na moda!) não materiais, deve privatizar-se a TAP? Evidentemente!
Na segunda feira vi a primeira parte do “Prós & Contras”. A primeira gozosa impressão que a coisa me deixou foi a comunhão de ideias do Louça com um tipo que, se não era da extremíssima direita, era pelo, menos ultra-nacionalista. Engraçado. Como o IRRITADO tem muitas vezes referido, os extremos têm ideias que, com diversos fundamentos e objectivos, vão dar mais ou menos no mesmo. Substancialmente, são o mesmo.
O Louça é contra porque é contra. Não precisava sequer de argumentar. É contra porque tem o raciocínio viciado em coisas como a “apropriação colectiva dos meios de produção” e a “economia planificada”, ainda que vá evitando estes chavões e procurando dar alguma lógica intelectual ao que diz.
O outro era contra porque a venda da TAP equivale, nas sua palavras, ao abandono de cinco milhões de portugueses e de luso-descendentes(?)que, vivendo fora do país, não querem outra coisa senão comprar bilhetes à TAP. Daqui se pode concluir que a TAP, uma vez privatizada, passará a não aceitar portugueses nos seus aviões. Ou que o comprador tem por objectivo pôr de lado as rotas de África e do Brasil. A inteligência deste pensamento ultrapassa o merecimento de qualquer comentário. O homem é uma besta e,como os comunistas, acha que a soberania nacional se mede pelo número de empresas de que o Estado é proprietário.
Depois, lá vieram as questões de pormenor, o preço, o encaixe financeiro, os trabalhadores, o projecto, etc. E, evidentemente, a falta de “transparência”. Ou seja, as negociações da venda deviam ser feitas na praça pública, todos os encontros, reuniões, almoços, operadores financeiros, respectivas actas e não actas, deviam vir nos jornais, etc.. Como se tal fosse possível, como se tal pudesse funcionar! O projecto é mais ou menos sabido, e ninguém parece poder pô-lo em causa. Mas, e garantias, meus senhores, que garantias dá o comprador de ser fiel ao projecto, hem?
Não sendo as negociações conhecidas passo a passo, muita coisa se sabe. Aqui há dias, o jprnal da oposição chamado “Público” dedicava a manchete e quatro páginas ao assunto. As três primeiras eram dedicadas à teoria da conspiração, num absoluto delírio de “investigação” jornalística, um mar de suspeições e de barro atirado à parede. De concreto, nada. Por ironia do destino, na quarta página, uma peça de outra jornalista descrevia com vasto pormenor, o estado das negociações, os avanços e os recuos, com larga cópia de informação propriamente dita. Nem se percebe lá muito bem como, no mesmo jornal, aparecem duas coisas tão diferentes. Ou muito me engano ou não tarda que a segunda jornalista vá para o desemprego. Que diabo, o IRRITADO também tem direito às suas suspeições!
E pronto. Livrem-nos da TAP e dos seus buracos, subsídios, indemnizações, excepções e descontos políticos! Venha o polaco, ou lá o que é. Saquem-lhe o que conseguirem,e ponham-no a pagar as dívidas. O resto é conversa de “pensadores” interessados em fazer-se ouvir e dos que lhes dão tempo de antena e páginas nos jornais.
19.12.12
António Borgesde Carvalho