VIVA O SILVA!
O Pai Natal de inúmeros craques da nossa praça foi o inigualável senhor Baptista da Silva. Da ilustre massa associativa do Grémio Literário ao núcleo de intelectuais do Lisbon-não-sei-quê, etc., avultando no vasto grupo a cómica figura do lacinho maricas da SIC/Expresso e seus ilustres convidados, a mais alta gente ouviu respeitosamente as esclarecidas palavras do excelso Professor Doutor Baptista da Silva, emérito Consultor Internacional com assento na ONU, onde ninguém toma decisões sem o ouvir, professor de insignes universidades americanas, economista de renome internacional, para além de outras invulgares qualidades que muito honraram os que o convidaram para nos iluminar com a sua vasta cultura, douta palavra, sábia informação e consequentes esclarecidas opiniões.
A nossa “massa crítica”, os nossos jornalistas, os nossos clubes de sábios, os nossos opinion makers, tinham feito a descoberta do ano: um ás, um vulto, um estratega, um português da diáspora que em terras longínquas honra a nossa Pátria, desembarcado na Portela para, com a sua fluente oratória e o seu profundo conhecimento dos problemas do mundo e do país, se dispor – julgo que a troco de umas massas – a contribuir para a cultura e os conhecimentos das nossas mais nobres classes, das quais faz parte, evidentemente, o gajo do lacinho.
Ora o homem, afinal, era um tipo como outro qualquer. Mas, que diabo, tinha opiniões, opiniões rebarbativas, fundamentadas, interessantes. Não ser nada do que dizia ser não tem importância nenhuma. Isto porque se fosse tudo o que dizia ser, diria as mesmas coisas. Se diria as mesmas coisas, que interessa que tivesse ou não tivesse o proclamado background?
Ou seja, o que interessa à nossa classe informatória/intelectual não é a substância das coisas mas a forma em que as envolvem. Uma mala Vuiton cheia de merda é uma preciosa mala Vuiton, que faz as delícias de angolanos, chineses e tipos do lacinho. Uma mala de cartão cheia de barras de ouro é uma porcaria que nem vale a pena abrir. É o caso. O tal Baptista da Silva, nos dois minutos em que o IRRITADO o ouviu, só disse asneiras e parlapatices. Mas foi ouvido com deferência e respeito. Porquê? Por causa da mala Vuiton em que o achavam metido!
E tudo minha gente continuaria a ouvi-lo com deferência e respeito, não fora alguém – não os que lhe compravam as bocas – ter-lhe destapado a careca.
Condecore-se o homem! É que, em meia dúzia de penadas, descobriu a careca dos nacional-bempensantes que, aos batalhões de tipos do lacinho, por aí vicejam.
Além disso, sobretudo por isso, divertiu-nos imenso neste pouco esperançoso Natal.
Viva o Baptista da Silva!
28.12.12
António Borges de Carvalho