“SAUDÁVEL” REFERENDO
O senhor Silva, médico de profissão e chefe incontestado da classe, viciado politicão esquerdista, primeiro homem em Portugal a confundir uma ordem com um sindicato, desdobra-se em iniciativas políticas da mais primária imaginação, com o denominador comum de ser todas contra o governo, faça este o que fizer.
A última é capaz de pôr às gargalhadas o mais sisudo. O homem propõe que se faça um referendo, a fim de que os cidadãos se pronunciem sobre aquilo a que o governo chama uso adequado dos medicamentos e a que ele chama racionamento. Presume-se que a pergunta seria : acha que os medicamentos devem ser racionados? SIM ou NÃO? Pergunta inteligente, como se vê, já que o NÃO estava garantido à partida, e por larga maioria. Seguir-se-ia, em grau mais elevado, a rebaldaria medicamentosa a que a joint venture médicos/laboratórios nos habituaram durante tantos anos. Ele, Silva, que até se diz admirador do ministro da saúde, acha que a política de poupança nos medicamentos está errada.
O IRRITADO, como em 99% dos casos, não está de acordo com o Silva. Na sua qualidade de consumidor habitual de várias drogas, tem visto a factura da farmácia descer, e descer muito, ao longo dos últimos meses. Se ainda há quem não tenha dado por isso é porque, felizmente, ainda há muita gente com saúde. Por outro lado, quando se fala em certa moderação no receituário de remédios caros para doenças graves é, evidentemente, porque há abusos na matéria, não porque se pretenda aumentar o sofrimento ou diminuir a vida da quem tem a desgraça de precisar deles.
Por isso que as opiniões, receitas e diatribes do Silva, deste feita referendárias, mereçam o destino adequado: o caixote dos disparates e dos adeptos do botabaixo.
4.1.13
António Borges de Carvalho