VERDADES E MENTIRAS
O senhor Portas disse que no relatório do FMI havia coisas boas, coisas a discutir e coisas inaceitáveis. Os jornais titularam, em grosso: Portas arrasa o relatório, Portas acha o relatório inaceitável, mais fissuras na coligação. O senhor Passos diz que o relatório não é uma Bíblia. Os jornais dizem que o senhor Passos acha que o relatório é para cumprir. O Banco de Portugal publica um boletim que infirma algumas previsões do governo, umas por defeito, outras por excesso. Os jornais informam que o governo errou as previsões, sem falar nas que, do BdP, são favoráveis ao governo. A dona Cristina diz maravilhas da execução do “programa de ajustamento”, mas que ainda há muito a fazer. Os media dizem que há muito por fazer. Ouvir as aberturas dos telejornais faz pensar que estamos todos às portas da morte. Um jornal caiu na asneira de publicar uma sondagem que dava o PSD a subir, o CDS na mesma, o PS a cair. Nem um só dos outros jornais se referiu a tal sondagem. Nenhuma televisão, nenhuma rádio.
E assim por diante. Não vale a pena. Toda a informação é truncada, “trabalhada”, ou “editada” – moderno eufemismo para censura político-ideológica.
O PS desdobra-se em ambições de poder. Recusa qualquer discussão. Boicota comissões parlamentares que tenham a ver com o futuro. De certa forma, tem razão. Como é possível a uma organização incapaz de deitar cá para fora uma só ideia que seja, entrar numa discussão, séria, seja ela qual for? Como é possível, a uma gente cujo único objectivo é voltar ao galarim seja à custa do que for, conversar sobre seja o que for? O PS é hoje o exemplo mais rasca e mais evidente do que é a partidarite como exclusivo critério de acção e opinião. Recusa culpas do passado como recusa consensos para o futuro. O fantasma de Pinto de Sousa continua a “inspirá-lo”. Depois, há maluquinhas, bêbedas, ladrões de telemóveis, e essa estranha geração de políticos que Paulo Campos ou Vitalino tão exemplarmente representam. E pouco mais, para além de um líder sem chama nem mensagem nem seriedade.
Venos por aí escarrapachada em outdoors uma manifestação de inteligência do BE: “Habitação, saúde, educação... ou juros?”. O slogan, para além de ordinário e demagógico, é de uma estupidez cristalina. Mas não anda longe da “argumentação” do PS. No fundo, o teor é o mesmo, a “inteligência” é a mesma.
O governo está só. Dizem que é por não ter “povo”. Mentira. Se assim fosse, não subia em sondagens. Ou não descia tão pouco. Está só na área dos políticos, não na das pessoas. Como o futuro dirá. E também está só na área dos seus próprios canalhas, os pachecos, os mendes, as leites, os capuchos, de um modo geral os que, apesar da cor que ostentam, viram as sua “legítimas” ambições, quer dizer as suas postas postas de lado.
18.1.13
António Borges de Carvalho