AH GANDA LINO!!!
Os meus ouvidos não queriam acreditar no que ouviam. Os meus olhos, devidamente arregalados, não acreditavam no que viam. As minhas meninges, a escaldar de espanto, ameaçavam incendiar-se. Os pelos dos sovacos encarquilhavam-se. Quase tiveram que me levar para o hospital, com uma crise de raiva, de espanto, de indignação.
O engenheiro da Ordem passeava, imperial, entre riachos e pântanos, seguido de brilhante e atento séquito. O tipo da televisão informava que sua excelência estava nos terrenos do aeroporto da Ota. Até aqui, tudo bem. Depois, o engenheiro da Ordem, falou:
- A coisa está atrasada.
Não explicou bem porquê, mas ficámos a perceber que os atrasos, para o governo, não têm importância nenhuma.
- Jamais será possível alargar o futuro aeroporto, disse.
Não explicou porquê, mas confirmou o que já toda a gente sabia.
- Não são n campos de futebol, são n vezes dois, declarou.
A coisa fica a dever-se ao facto de parecer que são precisas umas construções que não estavam no primitivo esquema.
O homem tem mais lata do que uma fábrica de conservas.
O homem não sabe, nem faz a menor ideia do tempo que a coisa levará. O homem sabe que o aeroporto da Ota é para ficar como for feito, não tendo qualquer hipótese de vir a adaptar-se a novos tempos.
Para o homem, dezassete mil hectares ou trinta e quatro mil hectares são mais ou menos a mesma coisa.
O homem avança com o projecto sabendo que a coisa não vai durar nem um quarto do que durou a Portela.
O homem avança, pletórico de importância e de poder, sem ter ideia nenhuma dos prazos de projecto, quanto mais de execução.
O homem, nesta fase da coisa, ainda nem ideia tem da área de que necessita para consumar a asneira.
E confirma isto tudo, para quem queira ouvir, com o sorriso dos alarves estampado na melancia, como se estivesse a dizer a coisa mais natural, mais normal, mais comezinha, mais comestível desta vida.
E é ministro! E manda nesta coisa! E prepara-se para enterrar Portugal no buraco mais caro da sua História. Sabendo, como todos sabemos, que se trata de uma simples teimosia, de uma insistência paranóica e criminosa dele e do ex-engenheiro (tipo co-incineração), como se o país pudesse ser governado com base em birras e voluntarismos estúpidos.
E ninguém pede a cabeça do homem! E Mendes continua a condenar os seus e a deixar esta gente dar cabo, à vontadinha, do nosso futuro, arruinar Lisboa, tratar-nos como se fôssemos parvos!
E SEPIIIRPDAACS, nas brumas de Belém, cala-se, cohonesta, consente, silencia, coopera, sorri e faz festas às criancinhas.
Ora digam lá se isto não é de ir parar ao hospital com uma crise de nervos.
António Borges de Carvalho