TRAFULHICES
Anda o “povo”, quer dizer, os jornais e as televisões, aflitíssimos com a história de mais mil milhões gastos para amenizar o buraco do BPN. Os filósofos do comentário adiantam teorias várias. Os pivôs e as pivoas estremecem em estertores de escandalizada indignação, apostados em excitar as massas. A oposição aproveita. O governo, com calculada cautela, terá tentado fazer passar a coisa, mas não evitou o alarido. Aliás, vivemos no meio de alaridos vários, coisa a que parece estar reduzida a nossa vida política.
As pessoas não percebem. Por que carga de água é que temos que andar a pagar as trafulhices de uns trafulhas? Que temos nós com isso? Quando é que se acaba com esta história? Quantos milhões mais?
Carradas de razão. Nada devíamos pagar. Então, porque pagamos e pagaremos? A resposta é simples, mas ninguém a avança. É que, meus amigos, as dívidas são do Estado. Se o Estado as não paga, entra em incumprimento. Se entra em incumprimento, entra em bancarrota.
E porque é que o Estado deve os dinheiros que foram malbaratados por uns bandidos? Não são estes os devedores? Não são, não senhor. O Estado – o governo socialista - nacionalizou o BPN, isto é, nacionalizou as dívidas, os buracos e as trafulhices do BPN. Ou governo socialista atirou com essa cangalhada toda para as nossas costas. Os fulanos que lá puzeram a massa à espera de juros tipo dona Branca ficam com o que é deles e é a malta que paga.
Percebem agora? Simples, não é? Com a desculpa de um risco “sistémico”, o governo socialista nacionalizou. Não havia risco sistémico de espécie nenhuma, como veio a ficar provado. O governo socialista enganou-se, ou limitou-se a dar largas à sua cartilha ideológica, como se a cartilha ideológica dos socialismos alguma vez tivesse resolvido algum problema, ou o tivesse resolvido sem recorrer às mais violentas ditaduras. Um governo liberal teria deixado cair o BPN e os que por lá, justa ou oportunisticamente, vicejavam. Os credores, esses, partilhariam os despojos, como em qualquer falência.
É estranho que a nacional-inteligência e os órgão de “comunicação social” já se tenham esquecido, ou nunca se tenham lembrado desta coisa tão simples: tão criminoso como os criminosos que criaram os buracos, ou mais do que eles, são os que atiraram com as consequências financeiras de tais crimes para as costas de uma Nação inteira. A estes ninguém julga nem mete na prisão, onde fariam boa e justa companhia aos trafulhas. Ou passeiam por Paris, ou ensinam nas faculdades, ou andam para aí nos alaridos, a pensar no dia em que terão poder para fazer mais das suas.
8.2.13
António Borges de Carvalho