NOTAS DOMINGUEIRAS
Uns rapazes roubaram um carro. Assaltaram dois bancos lá para a raia e, calmamente, rumaram a terras de Castela. A GNR, devidamente autorizada pelos hermanos, passou a fronteira em perseguição dos fulanos. Houve tiros, mas os meliantes deram à sola e não mais foram vistos; as balas da GNR eram de borracha. Não consta que as dos larápios também fossem. Os GNRs, temendo monumentais chatices, processos disciplinares e judiciais, os jornais à perna, etc., deixaram-nos ir embora, não perturbando o prosseguimento da sua nobre actividade.
Moral da história: fizeram eles muito bem.
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O Kosovo celebrou mais um aniversário da sua preciosa independência. Os sérvios, depois dos feitos do camarada Milosevic, ficaram com péssima fama. Por isso, o Ocidente, EU+EUA, vá lá saber-se porquê, apoiou a tal independência. Ora se os sérvios são maus, que dizer dos kosovares? Traficantes de drogas, armas e mulheres, reservaram aos sérvios um tratamento verdadeiramente excepcional, tudo indicando que a coisa continua: o bispo dos sérvios do Kosovo é guardado à vista por dezenas de militares armados até aos dentes; as crianças sérvias vão à escola escoltadas por patrulhas da NATO; as mulheres vão às compras cercadas de sargentos e magalas. No meio disto tudo, os antigos senhores da guerra estão no poleiro, tudo levando a crer que continuam as suas beneméritas actividades. E, sabem uma coisa?, a moeda local é... o Euro! Nada mau, não é? Sob o olhar terno da UE e dos EUA, o desemprego é de mais de 40%, a corrupção é o melhor modo de vida do país, ainda por cima em euros, e o que vale é que os cidadãos desta negra opereta não chegam a dois milhões. Senão, já viram o que seria?
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O ilustre secretário geral do partido socialista que temos foi a Espanha visitar os seus camaradas locais. E, numa demonstração da mais profunda amizade e cortesia, resolveu dirigir-se às sociais massas em castelhano, o que constituiu o melhor espectáculo de cómico degradado de que há memória, pelo menos desde os saudosos tempos em que Mário Soares brindava a Europa com o seu “francês”. Qual gato fedorento, qual Herman José, o Seguro é que é cómico! Não “puesso” mais!
A propósito, conta-se que o camarada Soares, em 1968, quando, diz-se, dava aulas em Nanterre, se dirigiu aos seus revolucionários alunos, e lhes disse: Chers élèves, si vous voulez que je part, je part, si vous voulez que je fique, je fique. Pelos vistos, a coisa deu frutos.
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O caso das facturas é um bom exemplo do sistema socio-informativo em que vivemos. Durante três dias, pelo menos, andaram os jornais a dizer que as pessoas eram multadas à saída dos cafés por não apresentarem a factura da bica. Veio um tipo do governo dizer que era falso, que a ninguém podia acontecer tal coisa e que não havia lei alguma que desse, para tal, legitimidade fosse a quem fosse. No entanto, pelo menos durante as 72 horas seguintes os telejornais deram realce à matéria, os diários também, e até houve intelectuais a perorar sobre o assunto, isto para além dos tacos-de-pia do BE que tonitruaram aleivosias, como se a coisa fosse, ou tivesse sido verdade.
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O tribunal condenou uma empresa produtora de lixo editorial a pagar choruda indemnização ao Dr. Santana Lopes, por o ter andado a difamar. Espera-se que o Ministério Público processe o Prof. Cavaco por ter feito o mesmo.
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O DN, por ocasião da renúncia do Papa, resolveu convidar uma figura da Igreja para uma enormíssima entrevista. Ora há uma data de figuras gradas da Igreja Portuguesa que podiam ser entrevistadas. Por isso, deixa o IRRITADO uma perguntinha: porque será que, entre tantos, foi o DN foi buscar um marmanjo do calibre do Dom Januário?
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Uma questão científica. Li não sei onde que o pedregulho que caiu na Rússia tinha uma potência superior à da bomba de Hiroxima. Então porque é que a bomba de Hiroxima matou milhões de pessoas e o pedregulho não matou ninguém? O que li pode estar certo, ou é como o caso das facturas? Haja quem explique.
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Em requebros do mais profundo ódio, a conhecida oposicionista/soarista Clara Ferreira Alves brindou ontem o PM com uma extraordinária diatribe. Porquê? Porque, num texto qualquer, o atacado escreveu que já se tinha sentado em mesas. A verrinosa criatura, sempre a largar postas de pescada “culturais”, acha que a preposição em está mal colocada. Daí, um chorrilho de acusações de iliteracia ao PM, e uma teoria geral das preposições verdadeiramente rocambolesca. Mesmo que se parta do princípio, aliás ou errado ou discutível, que as pessoas não se sentam em mesas, mas sim a mesas –como se não fosse correcto dizer “sentei-me na (em a) sala”, por exemplo – não será demais partir-se daí para um texto tresloucado e mal escrito sobre a personalidade do PM? E se a plumitiva criatura em causa se dedicasse a ler, por exemplo, o jornal onde escreve, e denunciasse, com a mesma virulência, a chusma de erros que lá vêm escarrapachados, preto no branco? E se ouvisse os debates e os telejornais, e fizesse o mesmo? Será que não sabe que chegue, ou inventa arguelhos para pôr nos olhos dos outros em vez de ver as trancas em que vegeta?
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Mal acabaria se não fizesse eco da mais importante nova do fim de semana: o camarada Seguro foi à terra natal da ínclita figura do doutor Vara, onde, em fausta cerimónia e com inigualável simbolismo, foi agraciado com justa admissão na academia dos suínos.
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Por hoje é tudo, que esta já vai longa.
17.2.13
António Borges de Carvalho