DO SEGREDO DE JUSTIÇA OU COISAS DO GÉNERO
Dois dias atrás, fomos surpreendidos com uma operação digna de espanto. A televisão, depois seguida pelos jornais, rádios e tudo quanto é ratazana, fazia uma inacreditável reportagem sobre uma acção conjunta de dezenas de juízes, procuradores, polícias e mais não sei quê, destinada a entrar de rompante numa série de bancos, com a intenção de detectar se há, ou não, um tenebroso cartel bancário para acertos de spreads e taxas. Eram dezenas de magníficos automóveis, com as matrículas disfarçadas, a partir em grande velocidade não se sabe de onde, com destino aos tais bancos, a entrar em caves e corredores, carregadinhos de investigadores. A coisa era descrita com pormenor, com a clara intenção de meter nas nossas cabeças que se tratava de uma operação tão importante como a captura do Bin Laden ou a limpeza de uma favela do Rio de Janeiro.
Declaração de desinteresse: havendo indícios que cheguem, o IRRITADO não tem, em princípio, nada contra este tipo de investigação.
Mas tanta parangona, e tão bem organizada, tão bem programada, dá que pensar. Vejamos. Normalmente, as polícias dão conta das suas acções, ou fazem propaganda delas, quando têm resultados a apresentar: apreensões de droga, de dinheiro sujo, de armas, captura de redes de imigração clandestina, etc. Parece, e bem, que durante a fase de investigação o segredo é a alma do negócio. Imagine-se o que seria se se propagandeasse que a polícia andava, em Freixo de Espada à Cinta, à procura dos irmãos Cavaco. Era oferecer aos ditos uma boa oportunidade de dar à sola, não é?
Desta feita, quando a operação começou a funcionar, já não havia banco nenhum que não estivesse a a pau com o serviço. A existir o tal cartel, as respectivas provas estariam a ser eliminadas a grande velocidade.
Vistas as coisas de outro ângulo, o que se pretendia talvez fosse lançar na opinião pública suspeições improvadas, a fim de denegrir os investigados.
Importante é que se trata de uma operação judicial. Não sei se tal coisa está, ou não, coberta pelo segredo de justiça, mas é evidente que, pelo menos, foi coberta por uma desmedida ânsia de notoriedade, absolutamente inprópria das entidades que tomaram a iniciativa. Um tal Sebastião, segundo os jornais, mobilizou as tropas especiais.
Como não se sabe de quem é a culpa da mediatização desenfreada do golpe de mão, evidentemente preparada com a devida antecedência, legítimo é concluir que todos são culpados: o tal Sebastião, a nóvel PGR, as magistraturas, os oficiais de justiça, a judite, todos.
Depois venham cá falar de segredo de justiça, de discrição da investigação, de protecção dos suspeitos e de outras nobres instituições do chamado Estado de Direito. Tretas.
8.3.13
António Borges de Carvalho