TRICAS MUNICIPAIS
Já não é a primeira vez que o IRRITADO dedica as suas locubrações ao inacreditável caso dos terrenos da Feira Popular, a Entrecampos, Lisboa.
Uma empresa comprou à CML, em hasta pública, metade de tais terrenos por 51 milhões de euros, importância que, segundo os jornais, foi paga. Depois, a tal empresa permutou os terrenos do Parque Mayer, de sua propriedade, com a outra metade dos terrenos de Entrecampos.
Acontece que um vereador originário do Bloco de Esquerda (organização com a qual se zangou, porque, de conluio com o camarada Jorge Coelho, queria encher Alcântara de contentores, tendo-se conluiado, a partir da zanga, com o presidente Costa) decidiu que não queria que a coisa andasse para a frente.
Primeiro, puxou os necessários cordelinhos para que a hasta pública fosse anulada. Mas ficou com o dinheiro!
Para além deste notável serviço, a cidade fica a dever ao tal vereador, de seu nome Fernandes, a luta que travou contra o negócio da permuta. Recorde-se que tal negócio, após voltas e reviravoltas, foi aprovado pela Assembleia Municipal com os votos favoráveis dos deputados do PPM, CDS, PSD e... PS.
Acontece que, perante a ameaça de ver o assunto em tribunal e o seu investimento (os 50 milhões mais o Parque Mayer) aniquilado durante décadas, o artista que tinha comprado metade e permutado a outra, resolveu oferecer ao Fernandes umas massas para deixar de chatear. O Fernandes, ajudado por um irmão, deu largas aos seus instintos policiais e, em vez de recusar, honestamente, o suborno que lhe era proposto, gravou a conversa e meteu o artista num sarilho dos diabos. O assunto foi objecto de várias sentenças e parece que ainda anda a passear pela Justiça.
Até aqui, é sabido o essencial da questão. O que agora interessa é, em termos do interesse dos munícipes, ver o estado em que as coisas estão, e no que deram.
Mais ou menos assim:
Passada uma dúzia de anos sobre o negócio, as duas preciosas parcelas da cidade em causa encontram-se votadas ao mais indecoroso abandono. O Parque Mayer, vítima, ao longo dos anos, das mais inacreditáveis e demagógicas tiradas, bem como de uma ou de outra propostas sérias, praticamente deixou de existir. É um local a evitar a todo o custo. A ex-Feira Popular, coisa que muito incomodava a vizinhança e poluía uma vasta área, é hoje pasto de coisas piores: lama, erva, buracos, poças porcas, ratazanas, prostituição, droga, etc.. Uma inenearrável vergonha para todos nós. O artista, esse, anda a pagar juros dos empréstimos que contraíu para a compra, impedido que está de mexer no terreno. A CML locupletou-se com os 50 milhões, mostrando que quer ficar com o pleno: o dinheiro do artista e o terreno. Entretando, como a pessegada continua nos tribunais, a CML desculpa-se com eles para não fazer nada no Parque Mayer.
Nem o Fernandes nem o Costa estão minimamente preocupados com a situação. Encomendaram umas avaliações, e acham que metade do terreno valia muito mais que o Parque Mayer, isto esquecendo, antes de mais, que as avaliações são como os pareceres jurídicos: favorecem quem as encomenda. Além disso o valor do terreno depende, exclusivamente, da própria câmara, uma vez que ninguém o quer para semear batatas. Sobretudo, esquecendo os interesses da cidade.
Os interesses da cidade são a última coisa que esta gente tem na cabeçorra. Porque, se tal não fosse o caso, em vez de se locupletarem com o dinheirinho e andar a brincar às demandas, teriam procurado um acordo qualquer (“mais vale um mau acordo que uma boa demanda”...) e resolvido o problema.
À custa da sustentação destas guerrilhas idiotas, sofre a cidade, sofrem os munícipes, sofre o país. Sofre a cidade porque só o IMT e o IMI que o empreendimento geraria faria entrar nos cofres camarários uma pipa de massa. Sofre a cidade, e com ela os munícipes, com o repugnante abandono a que duas das suas mais nobres parcelas estão votadas. Sofre o país por ver a sua capital tratada desta maneira. Sofre toda a gente, turistas incluídos, porque nem Feira Popular, nem Parque Mayer, nem apartamentos, nem urbanização, nem coisa nenhuma.
Tudo para satisfazer e a sanha de conflito do Fernandes, do Costa e, é de calcular, das rosetas mais da comunagem municipal.
Nós, para esta gente, não contamos.
28.3.13
António Borges de Carvalho