EPISÓDIOS DA NOVELA DA TRETA
Este Post andou para aí uns quinze dias perdido no computador. Já requentado, aí vai, com as desculpas do Irritado.
Toda a gente percebeu que uma senhora de nome Rocha, obscura militante socialista, tinha sentido na carne o pânico do partido com a eventual candidatura de dona Helena, e tinha tratado de a evitar pelos meios ao seu alcance. Para quem não sabe de quem se trata - o que deve passar-se com 99,99% dos lisboetas - a senhora em causa é a governadora civil do distrito, a seu tempo e a seu jeito nomeada pelo candidato Costa.
A coisa era grave. Dona Helena é mais um Manuel Alegre para o PS, uma fulana cheia de visão de futuro, visão que a levou a desfiliar-se do PS assim que lhe cheirou que ia haver eleições em Lisboa e que não seria a escolhida do chefe. A senhora Rocha tratou de arranjar uma data que puzesse de fora a dona Helena.
Mas o tiro saíu pela culatra. Veio o Tribunal Constitucional adiar a coisa por mais quinze dias, e aí temos a dona Helena com o caminho aberto para se apresentar a roer as canelas do Costa. Uma chatice.
Muito justamente, vieram alguns pedir a cabeça da senhora Rocha. Pois se se pôs de joelhos perante os interesses do candidato Costa, o que está ela a fazer no Governo Civil? Que confiança dá aos cidadão no acto eleitoral? É Governadora Civil de Lisboa, ou governadora eleitoral do PS?
Baldada diligência. A senhora fica, de pedra e cal, e dá sinais evidentes de vir a beneficiar, no que ao seu alcance estiver, o candidato que, “como cidadã”, faz questão de, publicamente, apoiar. É a desfaçatez, melhor dizendo, a absoluta falta de vergonha socialista no seu melhor.
Diga-se em abono da verdade que quem pediu a cabeça da senhora foi o CDS-PP. O PSD/Mendes ficou caladinho. Mergulhado na mais extraordinária crise de masoquismo de que há memória num partido político, para o PSD/Mendes, demissões, só as dos seus. Para o PSD/Mendes, o primeiro ministro não tem carácter, mas deve continuar primeiro ministro. Se a senhora governadora favorece um candidato contra outros, porque não há-de continuar no poleiro? Coerência, meus senhores, coerência!
Parece que, para o dr. Mendes, o fundamental é correr com o PSD de todas as instâncias do poder, e garantir que o PS não tenha problemas em ficar com o poder todo, todinho, coisa tão do agrado do largo do Rato.
Os camaradas do BE revoltam-se contra a nova data. Dizem que a malta vai estar em férias em 15 de Julho. Pois é. E em 1 de Julho, não vai? Será um raciocínio trotskista/Louçã? Ou leninista/Portas? Ou enverhoxista/Fazenda? Sabe-se que a lógica desta gente não é a mesma das pessoas normais, mas, que diabo, esta é de cabo de esquadra!
Das profundezas do Tribunal Constitucional, extraíu o chefe o seu novo Ministro da Administração Interna. Não lhe dá tudo, é certo, só as competências que não saca para si próprio.
Chateado por não ter sido eleito vice-presidente do tribunal, o dr. Pereira, célebre nos jornais por advogar a governamentalização da Justiça, bate com a porta e viaja para o Terreiro do Paço. De certa forma é uma coisa boa, já que fica o TC livre de um fulano que, como é evidente e os factos demonstram, não oferecia nenhuma espécie de garantias de isenção. Adorava saber se não foi dele um dos votos contra a decisão sobre a data das eleições, se é que à altura ainda andava armado em juíz.
No meio da pessegada, houve quem argumentasse que SEPIIIRPPDAACS devia ter impedido a nomeação do dr. Pereira, sob pena de cohonestar a monumental ofensa às Instituições que a sua saída do TC consubstancia. Cais quê! SEPIIIRPPDAACS preza, acima de tudo, a cooperação estratégica com o ex-engenheiro. Abrir fendas nesta altura? A dois dias da presidência da UE? Estão a brincar, ou quê? Nem pensar. Para SEPIIIRPPDAACS o caso não passa de um fait divers como outro qualquer. O primado do executivo no seu melhor.
O arquitecto paisagista Telles é um dos mais destacados apoiantes do caloteiro Fernandes. Mais um emérito viajante. Foi do PPM, foi da AD, foi do PS (independente!), foi do MPT, foi do PS/PC, agora está no BE, isto se não me esqueço de nenhum apeadeito da sua pluralística viagem. Com um jeitinho, se o Paulo Portas o descobre, ainda acaba no PP. Se o Fernandes ganhasse as eleições teríamos hortas sociais no meio dos quateirões (já viram os executivoas das avenidas novas a regar cebolas?), teríamos o célebre caminho pedonal do parque Eduardo VII para a Serafina (era só preciso calcorrear o vale da Alcântara todinho, para baixo e para cima, coisa óptima para dar cabo do canastro ao mais pintado), seria a coroa de glória de uma vida inteira a atrazar o mundo.
Enfim, a pessegada continua. Há mais capítulos, mas ficam para outros posts.
António Borges de Carvalho