FOGO FÁTUO E NOVOEIRO
Para abrilhantar uma sessão totalmente destituída de sentido ou influência, o casting, comandado por Mário Soares, descobriu uma estrela: o reitor Nóvoa.
(Diga-se entre parêntessis que isto de reitores anda, q.b., muito por baixo, pelo menos desde aquelas diatribes lançadas por altura em que o ministro Gaspar suspendeu certas despesas durante uma semana. Houve um ou dois reitores que vieram à praça pública dizer que os alunos iam morrer de fome, coitadinhos, porque não havia dinheiro para pagar as cantinas! Por outras palavras, que os fornecedores de paparoca iam fechar a torneira por um atraso de dez dias nos pagamentos! A politiquice rasca, a demagogia primitiva destes reitores pôs a classe de rastos.)
Para continuar, ou parar, a tendência, nada melhor que pôr o reitor Nóvoa, ilustre compagnon de route, a dizer de sua justiça.
Era de calcular o que viria a acontecer se alguém “mais alto” não viesse. O discurso de Mário Soares serviria para agitar as massas, mas não tinha mais substância que a já estafada e inconsquente cassete do botabaixo. Não passaria daí, como não passou. As intervenções das organizações presentes, para além de afinar pelo mesmo diapasão, seriam inevitavelmente meras repetições das mais que repetidas agendas das respectivas organizações. Fatal. Foi mesmo assim.
Daí que chamar um reitor seria arranjar alguma coisa de novo, ou de nóvoa, capaz de agitar as gentes com algo fora das cassetes do costume. Genial. O homem desempenhou o seu papel na perfeição. Parabéns. A assistência, percebendo ou não, vibrou. Que diabo, um tipo que vem “de fora”, que sabe falar, que até é capaz de saber português, era uma coisa nova, inédita, fantástica. E foi. Os basbaques aplaudiram, num frenesi, depois retomado pela imprensa e outros do género. O problema é que, espremido o limão da oração de sapiência, o homem disse coisa nenhuma. Outros termos, outros floreados, outra estilística, outra oratória. Já não é mau. Substância, zero!
Vale-nos saber que a coisa já está devidamente esquecida. O reitor voltou para a universidade, dará por lá as suas lições académicas e politicoides, mas já ninguém sabe quem o homem é. Os fulanos dos partidos voltaram aos seus gabinetes, a obrigação está cumprida, a luta continua, a ver se, um dia, se ganha uns votinhos. Mário Soares foi para casa muito contente, e ainda bem – para ele.
E assim se consumou a coisa. Fogo fátuo, parlapaté déja vu, inflamações várias, novoeiro.
O que continua é a vida, mais má que boa, mas que não tem nada a ver com estas celebrações. Nem com Mário Soares.
3.6.13
António Borges de Carvalho