BELMIRO DE AZEVEDO E O "PÚBLICO"
Malveira da Serra, 8 de Junho de 2013
Excelentíssimo Senhor Engenheiro Belmiro de Azevedo
Excelência
É Vossa Excelência um industrial e um comerciante de merecido renome. Felizmente, parece que não se dedica à especulação financeira, não anda a pavonear-se na “sociedade”, não usa exibir helicópteros, aviões, iates, carros de futebolista ou outras martigalas do género. Não se baixa perante governos nem anda de mão estendida à cata de dinheiro público. Parabéns.
No seu poderoso grupo, tem Vossa Excelência um jornal que, apesar de privado, ostenta o estranho nome de “Público”. O jornal nasceu sob a batuta de um curioso esquerdóide, um tal Silva, que, noutros locais, ainda hoje maça as pessoas com os seus contorcidos raciocínios. Dada a relativa moderação desses primeiros tempos – que atribuí à influência de Vossa Excelência – o jornal, apesar de próximo do PS, manteve alguma independência. Depois, e em boa hora, resolveu Vossa Excelência substituir o Silva pelo Fernandes, o que muito contribuiu para o prestígio da marca, ainda que mantendo a porta aberta a influências plurais.
Há algum tempo, porém, foi o jornal entregue a uma senhora que depressa o transformou, quase totalmente, em instrumento de eleição do socialismo nacional nas suas diversas vertentes e versões, ou seja, num mero porta-voz da oposição ao actual governo.
Atente Vossa Excelência, por exemplo, na edição de hoje. Dando de barato o editorial – destinado a louvar a greve dos professores e a dizer que a mesma é culpa “caos” instalado pelo governo(!) – toda a opinião publicada vai na mesma onda: Pacheco Pereira, despeitado opinador e marioneta voluntária das organizações soaristas, dedica uma página inteira a descascar no líder do seu próprio partido, uma cassete já gasta mas que ainda mexe; a dona S.J. Almeida exerce as suas demolidoras e quase diárias funções; uma tal Joana e um César Israel Paulo(!) zurzem no Crato; os senhores Freitas e Estanque afinam pela extinção do estado “Social”, afirmado que se trata de objectivo de ouro do governo; o intolerável Junqueiro produz uma das suas habituais quão burras diatribes. Safa-se o MEC, que escreve sobre macacos propriamente ditos, de baixa estatura.
Só falta pôr na rua o Fernandes, praticamente o único opinador que não toca o mesmo gramofone. A continuar neste caminho, pouco deve faltar.
Isto no que diz respeito à opinião do jornal e à escolha de opinadores. Se Vossa Excelência se dedicar a ler as “notícias” terá, certamente, surpresas do mesmo jaez.
Compreender-se-ia tudo isto sem dificuldade se, no seu livro de estilo, o jornal declarasse que se destina a defender o socialismo e apaniguados de todas as cores e feitios. Não enganaria o povo declarando-se democrático e pluralista. É comum nos países civilizados que os jornais tenham cor, daí não vindo mal ao mundo nem se enganando as pessoas. Sei que, por cá, tal não é uso, mas é um intolerável abuso que a coisa se pratique sem que seja declarada.
Daqui venho fazer um humilde apelo a Vossa Excelência: se quiser manter o jornal nesta onda, mude-lhe o nome. Em vez de “Público”, designação em si absurda, chame-lhe “Diário Socialista”, “Correio da Esquerda”, ou coisa que o valha. Poderá, assim, a senhora directora continuar a sua prosélita missão sem enganar o leitor com falsos democratismos e pluralismos aldrabões. Essa gente que mostre a cara, raio!
É evidente que Vossa Excelência, queira ou não queira, é o culpado da situação a que o seu jornal foi conduzido. Por isso que, em alternativa, lhe sugiro: ponha tal gente na ordem, a directora na rua, e o jornal nos varais.
Disse.
Com os melhores cumprimentos
IRRITADO
8.6.13
António Borges de Carvalho