ÁLVARO CUNHAL
Falo do seu exemplo de seriedade pessoal, da coragem na adversidade, da audácia na acção, da capacidade de resistir e de persistir, da clareza nos propósitos e objectivos, da firmeza e da tenacidade na luta.
… ninguém lhe pode negar a entrega total e pessoalmente desinteressada àquilo em que acreditava, a coerência firme e inflexível, a militância constante.
(Do discurso do presidente da Câmara de Lisboa, na festa de inauguração da chamada “Avenida Álvaro Cunhal”).
Lidas estas linhas, e pondo-as fora do contexto, verifica-se que se aplicam como uma luva a Estaline, Lenine ou Hitler, todos eles cheiinhos de “coerência”, de “coragem”, de “militância”, etc. O problema é que julgar políticos pelas suas qualidades pessoais é muito pouco. Primeiro, porque não se sabe se se trata de qualidades ou de fundamentalismo cego e de intolerância assassina. O que é o caso. Segundo, porque tais qualidades se medem pela forma como foram usadas, não apenas por elas.
Cunhal jamais lutou pela liberdade dos seus concidadãos. Lutou, sim, pela substituição de uma ditadura por outra bem pior. Aliás, nunca alinhou fosse com que tentativa fosse de acabar com a II República, e a todas acusou de “aventureirismo burguês” ou equivalente, sendo que há até quem diga, com foros de verdade, que algumas delas foram denunciadas à PIDE por sua iniciativa. Cunhal só viria a apoiar o fim da II República quando teve a garantia de ter o MFA devidamente infiltrado pelos seus fiéis.
É evidente, e historicamente provado, que Cunhal era um peão da URSS - o “Sol da Terra”, nas suas próprias palavras - que o sustentou, apoiou política e financeiramente, o louvou e condecorou.
A sua fidelidade à ferocíssima ditadura comunista da Rússia é um dado indiscutível. Cunhal apoiou a invasão da Checoslováquia pelos tanques soviéticos e chegou ao ponto de classificar o desastre de Chernobil como um acidente menor, para citar dois exemplos marcantes de cegueira, desonestidade e fundamentalismo.
Comandou o PREC com mão de ferro, e só aliviou a pressão depois de ver o êxito dos seus sequazes na tomada de poder do bolchevismo nos territórios africanos, “libertados” do garrote português e entregues, por escravidão ideológica, à destruição económica, à guerra fratricida, à doença e à fome, com o seu cortejo de mortos, estropiados, de assassínios políticos e de socialismo “esquemático”.
É esta a coerência e demais excelsas qualidades a que o Presidente da Câmara de Lisboa, destituído de qualquer resquício de probidade intelectual e política, presta pletórica homenagem, quiçá a troco de uns votos. Ou pior, porque se calhar é sincero nos elogios.
Que vergonha ter um presidente como este, e vê-lo dar a uma rua da minha cidade o nome do que foi, de longe, o maior canalha político do século XX!
10.6.13
António Borges de Carvalho