DA VERGONHA DOS DOCENTES
Se acreditarmos nas aldabices do xarroco, 90% dos professores fizeram greve no dia do exame. Estavam, portanto, disponíveis só 10%. Estes 10% vigiaram os 80% dos alunos que fizeram a prova.
O xarroco não percebe no que se meteu. Se chega 10% dos professores para o trabalho, mesmo dando os mais generosos descontos é possível chegar à conclusão que há muitos professores a mais, para além dos que já o estavam por falta de alunos.
Parece que os escrúpulos democráticos e sociais do governo o fazem tratar o problema com pinças, sem perceber que, sejam quais forem as delicadezas que use, jamais evitará a fúria do xarroco. O xarroco não anda nisto para defender os professores (nunca andou), anda nisto para fazer a política do comité central. E não tem escrúpulos de nenhuma espécie. O resto é conversa.
O problema é que uma classe que se sonharia de bom senso e plena de noção das responsabilidades tem os mesmos escrúpulos do xarroco, ou menos.
Que gente formou a nossa universidade durante estes anos, ou décadas? Que gente, que se recusa a ver um milímetro para além do seu próprio nariz? Que gente, que “educa” a juventude com critérios da mais rebuscada irresponsabilidade? Que gente, que dá os exemplos que tem dado, com este governo como com os demais? Que gente que tripudia sobre valores, democracia e outras coisas que não usa nem respeita?
Onde vai parar a successor generation, formada por gente desta?
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Hoje, li um artigo escrito por um “professor”. Um tal António Jacinto Pascoal, para que conste.
O homem acha horrível que haja turmas de 28 ou 30 alunos! O homem acha que os “professores”, coitadinhos, “mal têm tempo para para preparação das aulas”, “em virtude da sua carga horária”, coitadinhos. É por estas e por outras, coitadinhos, que não querem o horário de 40 horas, sendo 22 de aulas!!!... nem “conseguem atender às especificidades dos alunos”, coitadinhos... “os professores estão acabrunhados(?) pelo trabalho”, coitadinhos.
Daí conclui: Então, e “os alunos é que se sentem lesados”? de facto, o Pascoal tem toda a razão: os alunos não passam de um pretexto para os “professores” ganharem a vida, não é? Que porcaria é essa dos exames?
O brilhante raciocínio desde nobre “professor”, certamente transmitindo o sentir da classe, tem duas consequências. A primeira: é “uma vergonha” ter havido 10% dos professores, segundo as contas do xarroco, que foram aos exames. Uns desavergonhados, que não deviam ter ter o direito de não alinhar na greve. A greve não é um direito, é uma obrigação, segundo o Pascoal. O resto é uma vergonha. A segunda – fugiu-lhe boca para a verdade – é que “esta não é uma greve de professores, todos sabemos que aqui se joga muito mais campeonato”. Pois, é uma greve do xarroco, portanto do comité central. E acresenta: “não é desonra nenhuma dizer que esta greve serviu para molestar a realização do exame do dia 17”... e “só quem é parvo é que não sabe que é isso e muito mais do que isso”.
Aqui temos, bem escarrapachado: a) o que é vergonha para esta gente, b) a verdadeira natureza da greve do dia 17, c) o que é a “educação” que esta gente recebeu e que vende aos alunos, d) o que é o entendimento que esta gente tem dos valores democráticos e do próprio sentido do Direito, e) o português de 4ª classe do Pascoal.
20.6.13
António Borges de Carvalho