GREVE!
É quase meia noite. Não sei se por causa da greve dita geral, a famosa Lua inchada dos últimos dias ainda não fez a sua aparição. Pelo menos aqui, no céu a que o IRRITADO tem acesso.
Dentro de uns 40 minutos, entraremos no glorioso dia que, seja qual for o resultado, ou o comportamento da Lua, o Carlos e o seu novo sócio, neste momento, já comemoram junto dos camiões do lixo.
Afinal, o que vai suceder? Não se sabe em pormenor, mas as grandes linhas estão traçadas. O monstro parará: os serviços públicos, barcos, combóios, autocarros, aviões, etc. Numa palavra, o Estado. O monstro. Os empregados.
Não, meus amigos, não se trata de uma greve contra o patrão, o que consubstancia o conceito de direito à greve. É uma mera manifestação política contra o governo (se o governo fosse outro os autores da brincadeira eram os mesmos e mesma a palhaçada), sem uma pinga que seja de “interesse dos trabalhadores”. Bem vistas as coisas, não podia ser mais contra os interesses dos trabalhadores. Uma greve da autoria do comité central, representado pelo Carlos, com o patrocínio do oco através de um tipo cujo nome o IRRITADO ainda não decorou, não podia ser mais contra os interesses dos trabalhadores.
Quem não quer ir trabalhar não vai. É natural. Os que querem ir trabalhar não vão poder porque os que não querem ir trabalhar os impedirão de ir trabalhar.
Quem sofre, isto é, quem está no desemprego propriamente dito (também há o desemprego não propriamente dito, isto é, que se safa no paralelo), não tem voto na matéria nem direito à greve. Que se cale. Que vá bugiar. Isto tem a ver com quem está instalado. Os manda-chuva dizem aos instalados que estão a defender os seus “direitos”. Os instalados acreditam, ou fingem acreditar. E lá vão eles, de colete vermelho no lombo, para os piquetes. É que, à cautela, é preciso dar uma forcinha aos que, canalhas, amarelos, querem trabalhar, isto é, há que intimidá-los, dar-lhes umas lições de “doutrina”, e mantê-los nos varais. Muitos deles quereriam trabalhar, ou não perder um dia de salário, mas ficariam devidamente apontados (fascistas!) na ficha da pide dos sindicatos. Coisa perigosíssima, a ficha, em termos de futuro.
Assim, a greve “geral” de amanhã – ou de hoje, porque o IRRITADO se distraíu e já passa da meia-noite – será um triunfo magnífico para o Carlos e o outro, o Jerónimo e a meia leca, uma monumental desilusão para os verdadeiros trabalhadores e, espera o IRRITADO, mais um fait divers no que ao futuro diz respeito.
E a parva da Lua que continua sem aparecer!
26/27.6.13
António Borges de Carvalho