INICIATIVAS PUTÍFIAS
O amigo russo do nosso ex-engenheiro não perdeu nem um segundo para agradecer a abertura manifestada quanto aos seus desmandos e abusos. Ainda a pista do aeroporto de Moscovo não tinha arrefecido depois da descolagem do avião do rapaz, e já o camarada Putine dava mostras de inigualável gratidão. Reuniu uns jornalistas ocidentais, a quem comunicou que se ia empenhar numa nova corrida ao armamento, já que havia membros da UE dispostos a aceitar a instalação de mísseis anti-míssil, americanos, nos respectivos territórios.
O homem desembestou por completo. Vai armar-se, disse, de forma defensiva e ofensiva. Não, não é o que se possa pensar. A distinta excelência não vai instalar, também, mísseis anti-míssil. Vai escolher, disse, novos alvos na Europa e armar-se em conformidade. A coisa até lhe sai mais barata, uma vez que os putativos novos alvos, agora, estão bem mais perto do que os do tempo da guerra fria.
Dir-se-ia que, a uma instalação defensiva, outra lhe corresponderia. Quem poderia criticar? Mas a lógica é outra. Já que os EUA se preparam para montar defesas anti-míssil na Europa, para defender a Europa, a lógica de Putine é dar-lhes a devida utilidade, arranjando mais armas para a atacar. Para que serviriam tais defesas, se não houvesse ameaça? Crie-se a ameaça, em homenagem a Aristóteles.
Aqui temos, claro como água, o primeiro resultado diplomático da visita do ex-engenheiro a Moscovo. Baixou-se, mostrou o rabinho. O outro não hesitou. Estás à defesa? Ai é? Então, toma!
Esta coisa de presidência rotativa da UE tem que se lhe diga. Percebe-se o afã de tanta gente em acabar com ela. É que, com o actual sistema, a União corre o risco se ver presidida por ignorantes e irresponsáveis.
António Borges de Carvalho