VÍNCULOS
Tem o IRRITADO andado muito caladinho, para eventual gozo dos seus habituais detractores. Não, não está menos irritado que de costume. O computador é que tem estado com um achaque, uma pataleta, deu-lhe o flato. Paciência, quando melhorar ficareis a saber.
Outra coisa que teve um dos seus habituais ataquinhos foi a chamada informação, os media, como diriam os romanos, ou os mídia, como dizem os anglo-saxónicos e os analfabetos cá do sítio com pronúncia “culta”.
Lida uma data de parangonas de aqui há dias, ficam as criaturas normais com a ideia de que, havendo quase cinquenta mil dos chamados “docentes” à procura de trabalho junto do nefando ministério, este não se comoveu senão com o caso de três deles. Que horror! Sabido era que havia alunos a menos e, por consequência, professores a mais. Mas uma razia destas é demais, que diabo, em cinquenta mil só três?
As criaturas normais são então levadas a ir à procura da verdade que as parangonas escondem. A verdade acaba por surgir de sob o esfarrapado cobertor da “informação”. Os tais cinquenta mil não estavam à procura de emprego. Que buscavam então? O vínculo, meus amigos, o vínculo. Quererá o sufixo ulo querer dizer que se trata de um pequeno vinco? Não senhor. No caso, é um vincão. Coisas da língua, não é? Vínculo quer dizer entrada no quadro de inamovíveis, indespedíveis professores do secundário. Por outras palavras, o que os cinquenta mil queriam era ficar empregados para a vida, com garantia do Estado.
Nesta ordem de ideias, o IRRITADO opina que os três admitidos já foram demais. Quando um tipo quer trabalhar desde que jamais possa ser despedido, então esse tipo é alguém que desistiu de ser gente. Uma das obras mais urgentes do Estado “reformado” seria, ou poderá ser, a pedagogia do risco, do brio, do não encosto. Uma sociedade melhor, mais produtiva, mais rica e mais justa – sem ser por parlapatices de esquerda ou de direita - existirá quando a ninguém for dado desresponsabilizar-se de si próprio, isto é, quando cada um tomar conta de si e o Estado servir para a segurança das relações jurídicas de cada um, para a sua defesa contra terceiros, para a garantia dos bens de cada um e para a protecção institucional de todos. Dir-se-á que se trata de utopia do IRRITADO. Talvez seja. Mas necessário é mudar de paradigma, de princípio, de noções de direitos e de obrigações.
Com o tempo, quem sabe se não poderá deixar de ser utopia?
26.7.13
António Borges de Carvalho