COISAS ANIMALESCAS
Como acontece frequentemente, um cão de raça dita perigosa comeu uma criancinha ao pequeno-almoço. Bem mais fácil e mais tenra a criancinha, diga-se, que a velhota que, há uns meses, serviu de prandial repasto a um colega do nobre animal. Muitos outros casos do género costumam ser repasto da imprensa.
É de pensar que a besta que limpou o sebo à geronte foi, como se mete, ou devia meter, pelos olhos dentro, devidamente abatida e entregue o cadáver a uma fábrica de rações. Não sem que as animalescas criaturas da chamada AA – Associação Animal – tenham protestado veementemente contra o “assassínio” da fera. Só faltou a esta gente dizer que a culpa foi da velhinha, que não tinha nada que se meter nas fauces do canídeo.
No caso da criancinha, as coisas foram mais longe. As animalescas almas, sem uma palavra para a vítima, decidiram “recuperar” o bicho dando-lhe merecido refrigério e prestando-lhe a assistência de uma veterinária especializada e, é de pensar, de vários psicólogos, sociólogos caninos, nutricionistas e praticantes de outras distintas profissões, para o exercício das quais devem abundar licenciaturas, mestrados e doutoramentos pagos pelo contribuinte.
Exemplar! Quando o bicho homem se recusa a perceber a sua própria circunstância de pico da cadeia alimentar e de único ser vivo capaz de abstracção e de alteração significativa do meio, acontecem estas bestialidades. Com base em “sentimentos”, tidos por nobres, esta gente trai a sua espécie e tente mergulhar-nos na mais animalesca barbárie.
As autoridades, por seu lado, continuam a emitir regulamentos sobre perigosos animais de estimação, em vez de, simplesmente, proibir a sua posse.
Assim vai o mundo.
3.8.13
António Borges de Carvalho