ESPANHOLICES
Já não sei quem dizia, com certa razão, que aquilo a que se chama Espanha mais não é que o império de Castela sobre algumas nações ibéricas, ou espanholas, se se quiser. A própria língua oficial, tida por “espanhola”, é a língua castelhana. Línguas espanholas, ou hispânicas – na acepção latina do termo-, há várias.
Não se entenda com isto que o IRRITADO é adversário da unidade do reino espanhol, coisa que a História já consagrou e que não vale a pena, antes pelo contrário, pôr em causa.
Posto isto, olhemos os ainda vivinhos sentimentos ibero-imperiais de Castela, agora evidenciados pelas comichões que uns pedregulhos lançados ao mar pelo governo gibraltino nas suas – dele - águas territoriais lhe causaram. A reacção, verdadeiramente histérica, do governo e da oposição de Madrid põem a coisa em gritante evidência.
Há para aí 300 anos, os britânicos tomaram Gibraltar. Mais tarde, a situação consolidou-se por mor de um tratado internacional que consagrava a soberania britânica sobre o território. Os castelhanos, que parecem não ser adeptos de tratados, não param de pôr os seus compromissos em causa e de fazer exigências soberanistas.
Uma comparação há que não pode deixar de ser feita. 200 anos atrás, um general castelhano invadiu Olivença. Mais tarde, a chamada Espanha subscreveu um tratado em que se comprometia a devolver Olivença. Nunca foi fiel à sua palavra, nunca a devolveu.
Tanto em relação a Olivença como no que a Gibraltar se refere, não valerá a pena terçar armas: os gibraltinos, a cem por cento ou quase, não querem ser espanhóis, como os oliventinos, a cem por cento ou quase, não querem ser portugueses.
A diferença está em que, em face da lei internacional, enquanto Portugal tem todo o direito a não reconhecer a soberania espanhola sobre Olivença, a Espanha não tem direito de espécie nenhuma a querer apoderar-se de Gibraltar.
O imperialismo ibérico de Castela revela-se assim em toda a sua “qualidade” moral.
E nada nos diz que, lá no fundo, não lhe baila no espírito o inconfesso desejo de ir um pouco mais além nas suas ambições… chegar ao Atlântico, não é?
Dizia de Gaulle que le Portugal est une Catalogne qui a réussi. É bem mais do que isso, mas o dito é bem achado. Convém ir estando a pau.
8.8.13
António Borges de Carvalho