NEM UM RATO PARIU!
A espantosa vergonha política, administrativa e judicial que esta fase de “preparação” para as eleições autárquicas vem sendo vale bem a pena de algumas observações.
Anda por aí meio mundo a tecer as mais desabaladas críticas aos políticos, ao sistema, aos partidos, etc.. Muito bem. Será de pensar que o tal meio mundo pensa que a chamada sociedade civil está ansiosa por mostrar a sua vitalidade e de demonstrar que a democracia não se esgota nos partidos, antes precisa de ser a(pro)fundada - como dizia em tempos a camarada Pintasilgo - através de variegadas organizações espontâneas, fruto das mais puras, solidárias e desinteressadas profundezas da vontade popular.
Aqui há anos, já não sei quem decidiu acabar com o monopólio dos partidos no que ao poder autárquico diz respeito. Não haverá quem não ache bem, IRRITADO incluído.
A lei que tal determina é, porém, igual a tantas leis que por aí andam. Em vez de ir ao encontro de fenómenos sociais concretos e respeitáveis, veio querer criá-los. A sociedade respondeu como está à vista: borrifou no assunto. Escassas candidaturas há por fora dos partidos, as mais delas povoadas por dissidentes, ambiciosos, para-quedistas, vereadores saneados, capuchos cheios de dor de corno e aspirantes a políticos. Nem uma só dessas candidaturas verá a luz da vitória. Pelo que por aí se lê, nem uma tem uma ideia atraente ou original a propor. Puro e simples jogo de ambição e poder. A montanha da “sociedade civil” pariu umas formigas sem asas.
Mais engraçado, ou mais triste, é que tal sociedade não só pouco ligou à oportunidade que lhe era oferecida como, que seja legítimo pensar, a excepção que vai confirmar a regra do falhanço dos “independentes” – Oeiras - só logrará êxito no seguimento do que o meio mundo mais critica. A eleição é dominada por um presidiário cuja sombra protectora paira sobre as consciências dos eleitores. Estes, por muito moralistas e anti políticos que sejam, por mais condenatórios se afirmem contra a corrupção, o compadrio, a fuga aos impostos, etc., na hora da verdade estão-se nas tintas para a “moral republicana”, coisa que é brandida por aí como se fosse os dez mandamentos, mas que, se é que existe, é radicalmente imoral.
Como se isto não bastasse, a absurda lei da limitação de mandatos, destinada a impedir que os eleitores se exprimam como querem ou elejam quem preferem, ficou ainda mais absurda com a intervenção da dona Assumpção destinada a coonestar a repugnante cobardia nesta matéria demonstrada pelos partidos. Os oportunistas, como o Bloco de Esquerda, desataram a meter processos atrás de processos, eventualmente inspirados pela moral republicana mas destinados, não a clarificar a lei mas a criar mais politiquice e mais intrigalhada.
Desgraçadamente, temos o poder judicial que temos. Em vez de devolver ao legislador a clarificação da lei e se considerar incompetentes para fazer julgamentos meramente políticos, sem nada de judicial, os tribunais comprazem-se em dar o espectáculo que dão, com decisões contraditórias e argumentações inimagináveis. Nem sequer têm a decência de pensar que, sendo os juízes não eleitos, vitalícios e intocáveis pela sociedade, antes se fiscalizando a si próprios, não estão em posição moral ou mental para limitar ou deixar de limitar mandatos seja a quem for.
Só mais uma notinha, à laia de astrologia. O oco e seus amigos estiveram convencidos que as autárquicas eram a sua grande oportunidade de esmagar o PSD. Com o triste exemplo de Guterres, que aproveitou o desastre autárquico para dar à sola, eram favas contadas que o governo ia cair, e lá vinham as legislativas antecipadas para mais uma retumbante vitória.
Mas...
Por um lado, o PM já disse que, seja qual for o resultado das autárquicas, o governo não cai nem deixa de cair por causa delas.
Por outro, a pessegada autárquica dentro do PS é de tal ordem, que não há uma só alma que preveja o almejado land sliding.
Boas notícias, no meio da vergonha.
23.8.13
António Borges de Carvalho