AQUI HÁ GATO
A semana tem sido marcada pelo chamado “Estudo da CIP”.
O senhor Vanzeler foi a Belém, a São Bento, à RTP e à SIC no mesmo dia, dizendo que tal estudo “já há muito estava a ser feito”, que não diz quem o pagou, que se abre aos olhos do povo uma solução alternativa à da Ota, etc.
A tropa, que sempre se tinha oposto à solução Alcochete, surge a dizer que sim senhor, que se quiserem Alcochete, muito bem, a tropa não se opõe, a tropa encontrará “soluções alternativas” para os seus tirinhos, num alarde de nunca vista “cooperação institucional”.
O povo fica muito satisfeito. O povo nunca entendeu a brutal asneira da Ota e, parvo como de costume, acha que se acendeu uma luz no tenebroso túnel onde regouga o inenarrável Lino.
O ex-engenheiro manda dizer que dá mais seis meses ao povo para discutir o assunto.
Há aqui vários gatos.
Quem encomendou o estudo?
Quem o pagou?
Porque aparece o estudo agora, e não quando ficou pronto?
Quem promoveu a coisa?
Porque é que aparece o senhor Vanzeler a promover a coisa, sem sequer a ter feito passar pelas instâncias normais da CIP?
Porque é que o ex-engenheiro, de repente, deixou de ser teimoso?
Com que intenção, ou intenções, a coisa aconteceu?
Anda alguém a enganar a malta?
Ora bem. Rezam as crónicas da rua que o estudo foi encomendado pela Associação de Turismo de Lisboa, e pago por ela, pela Câmara Municipal e por mais alguém que a rua ainda não descobriu quem fosse.
Não conviria, diz a rua, que o estudo surgisse patrocinado por quem o pagou, porque poderia parecer que alguém estava a querer julgar em causa própria, como sucede com a plêiade de cretinos do Oeste que andam para aí a enganar o povo dizendo que a Ota é que é bom para o país.
Era, pois, preciso que surgisse uma terceira entidade, mais ou menos independente, a revelar a coisa. A CIP pareceu óptima a quem está por trás disto. Haveria que montar uma operação “credível”.
E assim se fez. O senhor Vanzeler prestou-se à coisa, a mando, diz a rua, ou do ex-engenheiro, ou de SEPIIIRPPDAACS, ou dos dois. Várias reuniões, diz a rua, tiveram lugar. Em São Bento, o senhor Vanzeler ficou uma boa meia hora a falar com o ex-engenheiro, depois de uma reunião formal com mais gente. Também consta que teve conversações prévias em Belém, ou com Belém, o que é verosímil dadas as boas relações institucionais, pessoais e matrimoniais que o senhor Vanzeler tem na Praça do Império.
Teremos, assim, uma conjugação de vontades.
SEPIIIRPPDAACS, é sabido, gosta tanto da Ota como o povo. É natural que tivesse dado, e muito bem, um empurrãozinho ao senhor Vanzeler.
Já no que diz respeito ao ex-engenheiro, a coisa fiará mais fino. É preciso pensar um bocadinho para perceber onde o homem quer chegar. Especulemos. Qual foi o efeito imediato do estudo? A quem convém a suspensão da decisão por seis meses? Quem é o principal beneficiário de tal suspensão? A resposta é fácil: quem lucra com a coisa é o senhor Costa e o PS. O senhor Costa não podia podia continuar a apresentar-se às pessoas como “amigo” de Lisboa e, ao mesmo tempo, a andar para aí a defender a Ota. Estando a coisa suspensa por seis meses, o senhor Costa passa a responder que a questão não se põe, que é uma decisão a ser estudada e que, a seu tempo, terá ocasião para defender os interesses da cidade. Nem sequer precisa de aldrabar mais as pessoas com jardins na Portela e coisas do género.
Aqui temos uma jogada de mestre. O homem, afinal, merece ser engenheiro, dada a forma com “engenheira” a opinião pública.
Para manter o “Oeste” nos varais, o Lino dos desertos reune com a trupe dos presidentes de câmara. Garante-lhes que a Ota é que é bom. Os fulanos saem do Terreiro do Paço a cantar vitória, satisfeitíssimos. Está tudo na mesma, afirma, triunfante o porta-voz da trupe. Isto quer dizer o que quer dizer: o Lino dos desertos garantiu-lhes que, sendo especialista em camelos, não cede um milímetro aos animais. Tudo confirma, para quem quiser perceber, a jogada do ex-engenheiro.
Costa exulta. Não vai precisar de descalçar a bota da Ota. Rima, e é verdade. Alguém lha descalçou.
SEPIIIRPPDAACS deve andar às voltas, nos dourados corredores do palácio, a estudar o passo seguinte. E se os tipos, seis meses passados, com a Quercus a arreganhar o dente, os empreiteiros a lobiar como doidos, o PS a fervilhar pelas ruas, chegam à conclusão, ou voltam à conclusão, de que a Ota tem que ser? SEPIIIRPPDAACS coça o queixo, a pensar na próxima jogada.
O Irritado, humildemente, deseja as maiores felicidades ao pobre senhor. Ou ele nos safa desta, ou não sei como nos havemos de safar.
António Borges de Carvalho