PESSEGADA AUDIOVISUAL
Desde sempre tem o IRRITADO traçado armas contra a existência dessa coisa inútil e contraproducente que se chama RTP.
Este governo, primeiro, parecia querer privatizá-la. Depois, o Relvas acagaçou-se com a gritaria da esquerda e tratou de inventar outra solução. Tal solução, como o Relvas, caíu.
Agora, carregado de boas intenções, o senhor Maduro, altíssimo intelectual da nossa praça, apresentou uma nova “solução”. Desta vez, trata-se de manter o monstro e de arranjar mais uma série de canaletes “temáticos”. Como pagar a coisa? É simples: carrega-se no botão da receita e vai buscar-se mais uns cobres a quem tem um contador de electricidade. O aumento, para cada um, é pequeno, mas tudo somado...
Lembro-me de uma pessoa que tinha sobre mim autoridade me dizer um dia, em ar de descompostura: António, um tostão mal gasto é uma fortuna, um milhão bem gasto é peanuts. Tinha toda a razão. É por isso que os cêntimos que vamos pagar a mais, não fazendo diferença à maior parte das pessoas, são uma fortuna, e uma fortuna cuja origem carece de legitimidade.
É certo que foi a esquerda que se revoltou contra a privatização, contra a solução Relvas, como se revolta agora contra a proposta Maduro, como se revolta contra tudo. É certo que, se o governo resolvesse privatizar, ou acabar com aquilo, caía-lhe em cima a quatro patas o Tribunal Constitucional, último e definitivo reduto da esquerda nacional, instância irrespondível da oposição, albergue de politicões engagés.
Para o IRRITADO, a RTP/EDP deviam ser simplesmente extintas, o património vendido, os funcionários mandados para casa. Que diabo, há tanta gente a ser despedida neste país, por que carga de água os parasitas audiovisuais são intocáveis? E se houvesse, o que é de admitir, necessidade de serviço para os emigrantes ou para o “império”, que se contratasse com os privados tal tarefa.
Não há nada que possa defender um sistema herdado de há quarenta anos, ignorando que o tempo é outro, a procura é outra, o mundo é outro.
A inacreditavelmente estúpida esquerda portuguesa, que acusa o governo de “manipulação”, “interferência”, “pressões” e outras malfeitorias, acha mal que o governo deixe de “tutelar” a “informação” estatal. Bem vistas as coisas, se calhar não é tão estúpida como isso: é que, se chegasse, ou se chegar, ao poder, nada melhor que ter TV e rádio do Estado para poder manipular à vontade. O PS até conseguiu manipular a TV privada - a Moura Guedes que o diga - como podia deixar de ter uma pública, mais perto e mais dependente? Como podia deixar de ter uma TV que lhe fornece, mesmo não sendo governo, uma tribuna onde perora o maior aldrabão político da nossa história, conhecido por “engenheiro”?
A coligação, por seu lado, limitada e anquilosada pela arrogância larilóide do CDS, vai-se entretendo a arranjar soluções que a esquerda possa “tolerar”. É de uma falta de coragem, ou de convicção, a toda a prova. E tudo à custa de quem nada tem a ver com estas “determinações constitucionais”.
Cuidado! O Palácio Raton vela por nós.
13.10.113
António Borges de Carvalho