É PENA
Temos que nos dobrar respeitosamente perante a soberania do povo. O povo, nas palavras luminosas da Martins, da Avoila, do Jerónimo e do sô Carlos, desceu hoje à cidade e disse de sua justiça que o governo é ilegítimo e que tem que ir embora, já que é essa a vontade do povo. O camarada oco veio em auxílio dos ilustres declarantes, dizendo que pois.
Tudo democrático, como é de ver. Exijamos a queda do governo, demos um pontapé no rabo da troica, deixemos de pagar as dívidas e, eleições realizadas, o oco virá aumentar os ordenados e as pensões, baixar os impostos, fazer manguitos à EU e ao FMI e pôr, como é de ver, tudo no seu sítio outra vez, aliás na peugada dos bons conselhos do camarada Soares e no seguimento das preclaras políticas do “engenheiro” e dos seus inigualáveis resultados.
Tudo isto estaria certo se o tal povo fosse o povo. Mas não é. Uns milhares de excursionistas não são o povo. O PC não é o povo. O BE não passa de um mínimo cagagésimo do povo. O próprio oco não é o povo. Feijoada e tinto em Alcântara não são o povo. Berraria primária, slogans de lata não são o povo.
O povo são os milhares de excursionistas mais (mais ou menos) uns nove milhões novecentas e cinquenta mil pessoas. Aqui, a porca torce o rabo.
Os excursionistas, a quem, em termos de cidadania, é devido respeito, são os pobres enganados pelas ilusões, aldrabices e vãs promessas do bolchevismo après la lettre que serve de modo de vida a um bando de condotieris que, bem vistas as coisas, se dividem entre os que não trabalham e os que jamais trabalharam. São as “vanguardas esclarecidas dos trabalhadores”, que os ditos sustentam e são levados a venerar.
É pena. É pena que continuemos tão atrasados.
19.10.13
António Borges de Carvalho