CONTAS DE SOMIR
Anda toda a gente indignadíssima com os cortes. Com razão. Ninguém gosta de levar com uma brutalidade de impostos em cima, ainda menos que lhe cortem no ordenado ou na reforma.
Uma coisa é a justa indignação e o decréscimo de qualidade de vida. Outra são as contas que se anda para aí a fazer.
Unanimemente, ou quase, diz-se que as pessoas fizeram um acordo com o Estado, e que o Estado está a faltar ao cumprimento de tal acordo. Em que consistia? Dizem as pessoas que, se descontaram, têm direito a receber o que pensavam que iam receber. Será justo, mas é primitivo.
A esquerda, que é contra tudo o que seja capitalização, berra que a Segurança Social e a CGA não pagam o que pagariam em caso de capitalização. Nada mais falso.
No caso da SS, aquando da fundação, pelo Prof. Maecelo Caetano, do chamado Estado Social, as contribuições para a Previdência passaram a ser “geridas” pelo Estado, que alijou a responsabilidade da tal gestão (do dinheirinho de cada um) em favor de prestações sociais, por exemplo para os chamados “não contributivos”. Veio o socialismo e, como é da cartilha, achou muito bem. Veio o Guterres e desatou a dar prebendas a torto e a direito, de inserção, disto e daquilo, dando a uns o dinheiro que outros tinham pago. Chamou-se a isto “redistribuição”, “igualdade”, e outros eufemismos próprios da ideologia.
Com o dinheiro dos que agora protestam mas não perceberam o que se estava a passar, o socialismo “distribuiu” o cacau que julgavam que era deles, mas já tinha deixado de ser.
Com a CGA o caso é ainda pior. Os funcionários descontavam, é certo, mas o restante – a parte do patrão, a parte de leão – era pago pelos impostos de todos, não só pelos dos funcionários. Aceite-se. O problema é que, feitas as contas à soma das contribuições e aplicando regras básicas de capitalização, certo é que jamais os funcionários fariam jus às pensões que têm.
É evidente que este Estado Social não podia deixar de dar com os burrinhos na água, ou seja, não podia deixar de chegar ao estado a que chegou. E, pelo andar da carruagem, a estação final ainda está para vir, se é que haverá uma estação final.
Bem podemos protestar, rabiar, fazer manifestações de repúdio e indignação, bramar contra a troica, o capitalismo, o “liberalismo”, etc.. Não vale a pena perder tempo com esse tipo de folclore.
Se houvesse a tal “solidariedade europeia”, e se a economia deitasse a cabeça de fora vinte vezes mais do que parece estar a deitar, talvez as coisas pudessem tomar um rumo decente. Mas não há nem solidariedade europeia nem economia que se veja.
A única coisa que podemos fazer é cortar também na nossa vidinha, e tentar preparar-nos para o pior.
Sursum corda! Não vos deixeis abater, irmãos meus.
25.10.13
António Borges de Carvalho