NOTAS DE TERÇA-FEIRA
Uma Delícia
Anuncia quem sabe que dona Maria José irá votar no candidato Costa, sim, no do partido socialista, pois, esse, o da Ota, o que diz que quer que o governo tome conta de Lisboa, sim, pois, esse mesmo. Em abono da verdade, refira-se que a distinta senhora esclarece que, para já, “poderia”, “mas, neste momento, não posso dizer que vou votar em António Costa”. Quem quiser decifrar que decifre.
Faz-me lembrar um padre lá das beiras que, há uns vinte e tal anos, me dizia mais ou menos assim: Eu sou padre, não tenho política na igreja. Mas cá fora, sou um cidadão. Ainda no domingo, na homilia, o afirmei bem claro aos meus fiéis, dizendo-lhes: meus irmãos, eu aqui não digo a ninguém para votar na AD, mas lá fora digo, ai digo digo!
Verdade é que les bons esprits se recontrent.
A nobre senhora, distinto membro da bancada do doutor Oliveira Salazar, vencedora do concurso “O Maior Português”, vota no candidato socialista.
Segundo os formadores de opinião, esta preclara atitude permitirá ao senhor Costa “caçar alguns votos aos seus concorrentes da direita e também a alguns simpatizantes da ex-militante do CDS/PP”.
Mais um favor que os lisboetas ficam a dever a tão ilustre quão ambiciosa (diz-se) personalidade. Não lhe chegou ter dado cabo da coligação, ter posto o seu partido na rua, tudo, diziam os mal intencionados, para dar oportunidades ao PS. Vem agora dar uma ajudinha mais concreta, mais directa, mais comprometida.
Santa inteligência!
O Irritado, que insiste em achar que o doutor Oliveira Salazar era socialista, fica deliciado com a genial atitude da dona Maria José.
Um Exame à Altura dos Objectivos do Governo
Pela primeira vez na história, um exame de português foi considerado facílimo pela esmagadora maioria dos alunos. Pela primeira vez na história, houve um exame de português que não tinha perguntas de… gramática.
Assim se vê o desvelo com que o governo trata da “qualificação” dos portugueses. A coisa toca as raias da genialidade. Pois se era uma vergonha a malta chumbar, o remédio é tornar a coisa de tal maneira fácil que tudo passa minha gente.
As estatísticas agradecem.
Transparência mas Pouco
Não há quem não ande para aí preocupadíssimo em saber quem pagou o estudo do engenheiro Vanzeler.
E os outros? Quem pagou e quanto? Foi o Camões? Porque é que ninguém pergunta tal coisa?
Isto de ninguém se preocupar em saber quanto custaram os inúmeros estudos que foram, tudo indica, pagos pelos nossos tristes bolsos, e andar tudo histérico a indagar quem usou meios próprios (quer dizer, não de terceiros) para pagar o do engenheiro Vanzeler, é coisa que põe o Irritado fora de si.
Separados de Facto
A dona Ségolène deu com os pés ao senhor Hollande. Uns dizem que foi por querer ser ela a chefe, no lugar dele. Outros que ele andava metido com uma secretária, ou coisa que o valha. Razões de peso, uma e outra.
Politicamente, parece que a dona Ségolène quer virar à direita e que o senhor Hollande à esquerda. Razão pela qual o “matrimónio” não podia funcionar. Se ela dormia do lado direito e ele do esquerdo, ficavam sempre de costas…
Chapeau
O Irritado não é, nem nunca foi, admirador do ex-edil João Soares. Mas tira-lhe o chapéu. O homem tem a coragem de defender a manutenção da Portela e de condenar a Ota. Pode ser que tudo não passe de uma jogada. Mas, para já, chapeau.
Novas Contratações
Em plena saison, e com a pompa informativa que a coisa merece, o dr. Mendes anunciou a remodelação da sua equipa para a próxima época.
Como é sabido, pelo menos dois avançados abandonaram a equipa, um por inconfessas razões (L. Paes Antunes), outra para se dedicar a tempo inteiro a fazer a vida negra à cidade de Lisboa (P. Teixeira da Cruz).
O dr. Mendes vai nomear, para posições de destaque na frente e nos flancos, personalidades da craveira de um Bernardino Vasconcelos, de um Amaral Lopes (sabem quem são?) e, ó maravilha, de um… Macário Correia! Uma plêiade de verdadeiros craques.
Ao que consta, e para espanto do Irritado, o Prof. Calvão da Silva presta-se a fazer parte disto. Vá-se lá saber porquê.
Independentes e Descomprometidos
Um grupo de cidadãos “não afectos a nenhuma das 12 candidaturas à Câmara de Lisboa” resolveu organizar-se para discutir o que “fazer absolutamente” e o que “não fazer absolutamente” cá no burgo.
Para se avaliar da “independência” e do não comprometimento dos promotores da iniciativa, veja-se aquilo a que chamam “pessoas tão variadas como”: Vicente Jorge Silva, Augusto Mateus, Gonçalo Ribeiro Telles, Manuel Graça Dias, António Barreto, Manuel Vilaverde Cabral…
Ou seja, pessoas tão variadas… que são todas de esquerda, com especial incidência em amigos do “Zé”, não do Zé propriamente dito mas do Fernandes.
Ah! Grandes cidadãos! Isto é que é independência! Desinteresse político! Honestidade! Procura do bem público!
Parabéns! Que pena tem o Irritado por não poder estar presente e gozar da luz e da pluralidade do pensamento de tão insigne gente!
E.T. Hoje, informa a imprensa que, na sessão promovida pelos impolutos cidadãos acima referidos, o genial Ribeiro Telles se aplicou a fundo a defender as hortas em Lisboa. Caso o seu protegido Fernandes ganhasse as eleições, lá teríamos que ir comprar uns sachos e cultivar rabanetes nas avenidas novas. O grande educador dos arquitectos que dá pelo nome Teotónio Pereira, esse, acha que, se houvesse uma autoridade metropolitana de transportes (uma ideia do dr. Santana Lopes)… não haveria túnel do Marquês (uma ideia do dr. Santana Lopes)… Fenomenal! O mesmo senhor não se fica, porém, por aqui. Na sua douta opinião, duplicar os impostos aos proprietários de fogos devolutos é coisa “demasiado branda” para punir a sua criminosa atitude. Deviam ser muito mais penalizados. Nunca ninguém ouviu o grande educador protestar contra as muitas centenas de triliões de contos que o estado roubou aos tais proprietários por causa da história das rendas. Nem jamais alguém o ouviu protestar contra a monumental pessegada do NRAU. Quando se trata, porém, de malhar em quem investiu em habitação para ser enganado pelo estado, lá está ele, como um lobo, a arranjar bodes espiatórios… E mais. Para o ilustríssimo intelectual, hotéis no Terreiro do Paço, que horror, nem pensar.
Pobre Lisboa, minha querida terrinha!
António Borges de Carvalho