À ESPERA DE GODOT
Rezam as crónicas que, em 2002, Portugal acabou de pagar as dívidas deixadas pela política de fomento de infraestruturas de Fontes Pereira de Mello, contraídas em meados do séc. XIX.
Igualmente está na História que as dívidas de guerra da Alemanha foram pagas tendo em conta a evolução do PIB alemão no pós-guerra.
Ao tempo destes endividamentos não havia “solidariedade europeia” nem união monetária nem BCE, nem nenhum desses brilhante sentimentos ou instituições.
Após o fim dos impérios, os países inviáveis de África (São Tomé e a Guiné Bissau, por exemplo) passaram a ser apoiados pelo Banco Mundial, pelo Banco Africano de Desenvolvimento, pela UE, e por mais não sei quantas caritativas instituições. Núvens de funcionários principescamente pagos passaram a frequentar os países ajudados, acrescentando verbas astronómicas à respectiva dívida. Com mais ou menos tempo decorrido, chegavam à conclusão que jamais tais dívidas seriam pagas. Juntavam-se então os “doadores” e, com mais ou menos moras, com mais ou menos reuniões, as dívidas acabavam, e acabam, por ir para o caixote do lixo.
Agora fia mais fino. Os países europeus em dificuldades são “ajudados” mediante créditos de curto ou médio prazo a juros que toda a gente sabe não poderão ser pagos, pelo menos nas condições que os ”ajudantes” impõem. E, até ver, não há volta a dar. Mesmo com “união”, “solidariedade” e outras “verdades” oficiais.
A culpa é da Alemanha? Com certeza. Mas não o é menos dos que, no fundo ou à superfície, seguem, com pouco inteligente interesse próprio e cinismo q.b., as mesmas regras. Convenhamos que, no estado actual das relações políticas e financeiras, com a Europa a perder terreno todos os dias, com a globalização a beneficiar os que se dizia virem a ser prejudicados com ela, os caminhos são mais estreitos do que já foram.
Mas, que diabo, haveria que pensar nas lições do passado, sobretudo por parte de quem foi objecto de medidas excepcionalmente protectoras.
Para já, o que podemos fazer é amochar e ir pagando. O resto são fantasias ou loucuras como as do Soares, seus adeptos, e outros pataratas de serviço.
Resta esperar que alguma nova liderança continental venha a pensar e a impor algo que mobilize a opinião para problemas que não têm soluções nacionais.
28.11.13
António Borges de Carvalho