UM NOJO
O direito à greve implica o seu contrário. A decisão de fazer greve pode ser tomada por um colectivo, mas fazê-la ou não a fazer é um direiro individual, como individual é o direito de pertencer ou não ao tal colectivo. Se toda a gente tem direito à greve, toda a gente tem direito à não greve.
O costume consagrou a existência dos chamados piquetes, grupos organizados de grevistas que, soit disant, se destinam a, pacífica e democraticamente, tentar convencer os não grevistas a passar para o seu lado.
O problema está em que os grevistas se acham mais que os outros. Pensem, por exemplo, o que seria se os não grevistas fizessem piquetes para convencer os outros a mudar de opinião! Cairia o Carmo e a Trindade!
O problema está em que os piquetes não têm nada a ver com conversas. Estão ali para impedir os outros de trabalhar, não para lhe comunicar as suas razões.
O caso dos CTT é paradigmático. Os piquetes impediam os camiões de sair. A polícia, e muito bem, protegeu os direitos dos que queriam trabalhar. Os camiões sairam. Mas os que acham que o seu direito a fazer greve submerge os dos demais – que não têm o direito de agir ao contrário – queriam obrigá-los a proceder contra as suas decisões.
Estamos pois perante um inqualificável e violento abuso de direito e uma não menos violenta opressão sobre os direitos dos outros.
Ao mais “alto” nível, a CGTP, o PC e o BE apresentaram-se ao serviço. Os senhores deputados do PC e do BE, que dizem ter o direito de livre trânsito, misturaram-se com os piquetes para ser empurrados, como eles, pela polícia. O Carlos fez o mesmo. Quer dizer, em vez de explicarem aos seus camaradas grevistas que não tinham o direito de impedir os que queriam trabalhar de o fazer, fizeram os possíveis para exaltar mais os ânimos. Os três díscolos conquistaram horas de antena, como de costume.
E, ainda por cima, foram hoje para a AR vituperar a polícia – tudo tendo feito para a indisciplinar – e aproveitar para zurzir no governo, por ter feito cumprir a lei e defendido os direitos dos cidadãos, postos em causa pelos piquetes e seus acompanhantes politicos.
Um nojo.
29.11.13
António Borges de Cravalho