DIETAS
Como já referido noutra crónica, o IRRITADO não sabe lá muito bem para que serve esta história do património da humanidade. Será que a ONU, quando se trata de edifícios, dá umas massas para a manutenção? Admita-se. Então, e quando a coisa cai no “imaterial”? Aqui há tempos, de braço dado com os pauliteiros do Botswana e com e os saltimbancos da Papuásia, ou coisas do estilo, foi o Fado elevado à categoria de património imaterial da humanidade. Será que vão dar um subsídio vitalício ao Carlos do Carmo, a ver se ele não chateia mais o pagode? Vão reeditar o Menano? Não parece. O que parece é que o que era exclusivo património dos portugueses passou a ser doutra gente.
Adiante. Foi agora a vez da “dieta mediterrânica” - que passa a ser “imaterial”(!) -, coisa que fez embandeirar em arco a nacional bempensância e não só – possidónios! -, que nem sequer se lembraram que o Mediterrâneo é coisa que não banha este jardim. Mas o país atlântico que somos, em vez de potenciar a diferença, acha óptimo pedir boleia aos mediterrânicos.
E o que é isso da dieta mediterrânica? Os alhos, as cebolas, o azeite, o tintol, os legumes (estão na moda os legumes), o peixe, ou a forma de usar estes materiais? Será que, agora, a ONU vai fornecer umas couves à malta? Não me parece.
Por outro lado, o que tem a cozinha francesa a ver com a italiana? Nada. São vizinhos e mediterrânicos, e nada. O que tem a nossa cozinha a ver com a cozinha levantina, ou até com a espanhola? A cultura dos legumes é coisa recente entre nós: não há nada mais miserável que uma salada de alface à portuguesa, e as saladas fazem parte da cultura grega, essa sim, mediterrânica, aliás péssima em termos gastronómicos. E o que temos nós a ver com a dieta do Norte de África? Os franceses, conhecidos como tendo a melhor comidinha deste mundo, nunca souberam cozinhar um salmonete, nem fazem ideia do que seja uma sopa de cação. E não comemos peixes do Mediterrâneo! O que tem o nosso azeite a ver com o turco? O que tem a nossa doçaria a ver com qualquer outra, a espanhola incluída? Nada.
E assim por diante, os exemplos são aos pontapés, não valerá a pena continuar.
O problema é que, por este andar, com a enorme alegria dos bempensantes e dos ignaros, passaremos, universalmente, a ter a dieta dos libaneses ou a ser especialistas em cus-cus! Ganhamos alguma coisa com isso? Bem pelo contrário, passamos de cavalo a burro.
O melhor é não dar mais atenção a isto. Vou mas é comer uns pèzinhos de coentrada e, ao jantar, uma chanfana à moda da Beira.
5.12.13
António Borges de Carvalho