COISAS
Ele há coisas verdadeiramente extraordinárias, fora do comum, originais, a desafiar a imaginação do mais pintado.
É sabido que o governo do senhor Pinto de Sousa, entre outros arranques de esmerada inteligência, se dedicou a disfarçar buracos através de várias engenharias, talvez fazendo jus à “profissão” do chefe. Lembram-se das desorçamentações, de que é retumbante exemplo a Estradas de Portugal? Lembram-se da contabilidade criativa a que a UE pôs fim, o que obrigou os sucessores a pôr as coisas no são, revelando as mais diversas “coberturas” e as invenções de subvalorizados défices?
No meio desta “política” fiscal, veio a lume, como não podia deixar de ser, uma série de contratos swap que não caberiam na cabeça do mais pintado, mas cabiam nas manigâncias governamentais, destinados a disfarçar abismos financeiros, devidamente desorçamentados, das empresas públicas. É sabido que há swaps bons e swaps maus, sendo estes últimos a especialidade da tutela governamental socialista.
Toda a gente sabe disto. Seria honesto que os seus autores o assumissem. Se fossem honestos, é claro.
Uma deputadinha do PSD, relatora de um documento sobre o assunto, apresentou ao público o seu trabalho, fruto de intermináveis reuniões de uma comissão parlamentar especializada. As conclusões, como não podia deixar de ser, puseram a nu as imaginativas trapalhices, o que para ninguém constitui novidade.
O que aconteceu a seguir? Uma série de doutores, que estavam na tal comissão(!) vieram a lume dizer, aliás como sempre, que a culpa do que fez o governo anterior é do actual. Faz inveja ao lobo do La Fontaine! Pois não é que os maus são os que andam à nora a tentar minorar as consequências do que os outros fizeram, em vez dos que meteram a pata na poça? Pois não é que os que tentam tapar os buracos são os maus, e os que os abriram uns arcanjos?
É verdade: há coisas verdadeiramente extraordinárias, fora do comum, originais, a desafiar a imaginação do mais pintado.
18.12.13
António Borges de Carvalho