RECORRÊNCIAS
Parece que, para os mais altos cargos da Justiça, temos, recorrentemente, o azar a perseguir-nos. O IRRITADO tem, também recorrentemente, e por exemplo, chamado a atenção para a vasta quantIdade de “argoladas” dos titulares da PGR, a que hoje volta.
Sua Excelência a Procuradora Geral, a propósito das também recorrentes violações do segredo de justiça a partir da organização que dirige, mandou instaurar um inquérito. Muito bem. Concluído este, ciente das suas altas e públicas responsabilidades, veio à Pátria as brilhantíssimas conclusões de tal inquérito: zero.
Zero quer dizer que, na Procuradoria, não há culpados, nem acusados, nem investigados. O que permite, ao IRRITADO, não aos inquiridores, concluir que as fugas do segredo de justiça foram fruto de osmose entre as paredes de algum gabinete e a redacção dos jornais. Em alternativa, terão sido segredadas aos jornalistas pelos mamarrachos de pedra que ornamentam a porta do Palácio Palmela, luxuosa instalação da ilustre senhora e dos seus súbditos.
Não havendo, como parece provado no inquérito, mão humana intramuros, haverá que a encontrar cá por fora, opinando a preclara cidadã que talvez o melhor seja pôr os jornalistas sob escuta. Notável.
Nesta ordem de ideias (“a debater”, claro!) a situação será simplificada: o delator dirigir-se-á à cabine telefónica mais próxima, telefonará ao jornalista da sua escolha e desbocará os segredos que entender. A haver azar, condena-se o jornalista, e pronto, está o problema resolvido.
Nada que, por cá, não seja recorrente. A culpa, ou é de terceiros, ou morre solteira.
10.1.14
António Borges de Carvalho