DO QUE ESTÁ, OU AÍ VIRÁ
Uma Senhora de idade provecta, em tempos eleitora do PS, dizia-me aqui há dias mais ou menos isto:
- Você não acha que, se não fosse a União Europeia, com esta gente que nos governa já tínhamos a PIDE de volta?
Respondi-lhe com o que me ia na alma:
- Não sei se seria a PIDE, algum Big Brother, ou outra coisa qualquer, mas que teríamos alguma coisa no género, acho que a ninguém restarão dúvidas.
Para tal, penso agora, nem devia ter sido preciso esperar pelo advento do senhor Pinto de Sousa (auto-dito Sócrates) e da sua mentalidade persecutória. Se não fosse a UE, quantas golpadas já teria havido ao longo dos últimos vinte anos, quantos pronunciamentos, quantas prisões, confusões, conspirações? Quantos salvadores, quantos generais, quantos condotieris?
Como estamos na UE, a coisa tem sido mais meiga. Só agora estamos perante a ressurreição do pidismo. Não, não digam que o Prof. Cavaco já dava sinais preocupantes nesta matéria. Sem ser propriamente um admirador do seu estilo, acho que, ao contrário de Pinto de Sousa, não abusava da autoridade, exercia-a. Mal ou bem, consoante as ocasiões, e as opiniões.
Agora, é diferente. Não há dia em que se não saiba uma nova. Os que fazem alguma coisa são corridos, os que dizem o que pensam são demitidos. Quem se atrever a reclamar das decisões das finanças verá abolidos direitos elementares. Os jornalistas tendem a passar a bufos por imperativo legal. As perseguições movidas por zelosos funcionários a inocentes terceiros são consideradas, oficialmente, como legítimas. Uma ministra completamente esgrouviada saneia os mais competentes. Continua ministra. Uma secretária de estado qualquer afirma que só é permitido dizer mal do governo lá em casa e nas esquinas. Continua secretária de Estado. O presidente da CML coliga-se com a bufaria. Continua, não só presidente, como uma das mais altas figuras di poder socréfio.
A lista nunca mais acaba. Sabem porquê? Porque os saneadores, os que dizem horrores, os denunciantes, os bufantes, só saneiam, só dizem, só bufam, só actuam, porque, com isso, interpretam a mentalidade inserida na vida política e social portuguesa pelo senhor Pinto de Sousa (auto-dito Sócrates). São a voz do mestre. São os olhos e os ouvidos do imperador. São os executores da sua vontade.
Se assim não fosse, seriam demitidos, desmentidos, desautorizados. E Não são.
A origem do mal está à vista de toda a gente. Não vê quem ver não quiser.
Será que o senhor Mendes vê alguma coisa?
António Borges de Carvalho