GRANDE FUTURO
Alguns “pitonisos” dedicam-se à nobre tarefa de augurar um futuro cheio de potencialidades à coligação PS/BE na CML.
A coisa, na opinião dos rapazes, é o caldo de cultura de mais largos voos, ou seja, é o noivado do PS e do BE, destinado a um governamental casamento em 2009.
No seio do BE, as coisas mexem no mesmo sentido. Enquanto o senhor Louçã e o senhor Portas, putativos pretendentes a ministros do reino de Pinto de Sousa (Sócrates), se vêm já, de gravata, a levar o comunismo caviar aos salões do paço, as mesnadas mais ortodoxas reclamam que alguém está a trair a ditadura do proletariado e a evitar que a burguesia se veja abatida em fuzilamentos e gulagues.
De uma forma ou de outra, todos os membros do bando acreditam que a porta do poder se abriu, e com ela a felicidade ou a ruína, consoante o pensamento de cada facção.
Primeira verificação: o bando, que mais não é que um saco de gatos, iluminados pela luz de um lugarzinho em São Bento, começa a romper pelas costuras. Uma boa notícia para os portugueses em geral, e para o senhor Jerónimo em particular.
Segunda verificação: os tipos do bando, como os pitonisos, acreditam que a coligação do Costa com o Fernandes vai funcionar e dar frutos.
E vai. Antes de mais para o senhor Teles. Como nos áureos tempos do senhor Soares, voltará a vender uns projectinhos à CML. Não é demais recordar que o senhor Teles meteu na gaveta as suas convicções, ou calou-se, o que é a mesma coisa, nos casos do Corte Inglês e dos barracões que comeram larga percentagem do verde do Parque Eduardo VII, isto a troco do inacreditável projecto do impossível jardim Amália Rodrigues. Agora, é mais que certo, recuperará o gabinete camarário e dará largas à sua “ligação entre o Parque e a Serafina”, coisa que jamais funcionará mas que faz as delícias do seu autor e do bufo que o re-promove.
Dando esta circunstância de barato (umas asneiras a mais não fazem mal a ninguém), veja-se o que diz a propaganda (que o Fernandes tem o pelouro dos jardins) e o que é a verdade (o Fernandes tem o pelouro do ambiente).
O pelouro do ambiente é o que se quiser fazer dele, isto é, sendo transversal, pode ter “jurisdição” sobre praticamente todas as decisões da Câmara. Daí que o Fernandes seja o mais poderoso de todos os vereadores. O Costa deu-lhe tudo o que se pode dar, talvez sem perceber com quem estava a lidar.
No futuro próximo há um só cenário: o Fernandes vai começar a chatear o Costa. A partir daqui, os cenários começam a diversificar-se. Os BE’s pretendentes a ministro ficam à rasca e vão tentar deter o Fernandes, a fim de não pôr em causa o seu (deles) brilhante futuro. Os ortodoxos vão explorar à saciedade as tropelias do Fernandes, tentando fazer abortar o acordo que levaria os outros, e não os próprios, ao galarim. O assunto ficará, por isso, às ordens do Fernandes: será ele a decidir se se zanga, ou não, com o Costa.
Por outras palavras, o futuro do bando está nas mãos do Fernandes. Se o Costa prometer ao Fernandes um lugarzito tipo ministro de estado em 2009, a coligação tem futuro. Se não, lá se vai o noivado. O Fernandes voltará às denúncias, aos processos, aos métodos pidocráticos, enfim, ao exercício das suas habituais especialidades.
É lindo ver o bando a esfrangalhar-se. Talvez seja esta, afinal, a mais nobre missão do fulano. Há males que vêm por bem.
Só é pena que o senhor Mendes ande a navegar em águas tão turvas que nem vê o que se passa.
António Borges de Carvalho