ALDRABUÇO MAS ESPERTALHUÇO
Dizem que o senhor Louçã é professor numa faculdade qualquer, de economia, ou de finanças, ou coisa que o valha.
Aqui há dias, declarava o douto docente a um jornal que “não há animal mais predador das bolsas que o capitalismo”. Não se sabe bem o que entende a criatura por capitalismo, na acepção da frase. Como nunca houve, nem haverá, bolsas (propriamente ditas) socialistas, deve entender-se que o capitalismo é predador de si próprio? Ou o que o fulano quer dizer é que os capitalistas depredam as bolsas? Ou que é mau que as bolsas subam, porque vão aumentar os valores que os capitalistas detêm?
Talvez seja esta última a interpretação correcta. É que, a seguir, o tipo diz que “Joe Berardo ganha numa manhã muitos milhões de euros sobre os quais não se pagam* impostos”. A criatura odeia o senhor Berardo e quejandos, e quer espalhar esse ódio seja lá como for. A criatura sabe que os milhões que se ganha através das valorizações bolsistas são valores putativos que só se materializam quando vendidos, sendo, neste caso, as mais valias obtidas objecto de “tratamento” fiscal. Quando são muitas as acções em causa, se vendidas, desvalorizam-se. Portanto, quando o tal Louçã diz que o enriquecimento bolsista não paga impostos, ou é um ignorante crasso, ou está a aldrabar o povo.
Se é facto que o o raio do demagogo é professor de finanças ou equivalente, então não há dúvida de que está a aldrabar o povo. Para qualquer comuna que se preza, fomentar o ódio e a inveja é nobre missão. Parabéns.
Noutra declaração, o senhor Louçã informa que “não serei ministro num governo Sócrates” (Pinto de Sousa).
Notável.
O que é que isto quer dizer?
Antes de mais, que o homem quer ser ministro. Claro como a água. Que fique assente.
Depois, que quer ser ele a escolher o chefe, não o contrário. Ou não. Não, meus senhores, não. O que isto quer dizer é o senhor Louçã está a dar ao senhor Pinto de Sousa (Sócrates) uma oportunidade. Quando chegar a altura própria, o senhor Pinto de Sousa (Sócrates) tomará umas atitudes indiscutivelmente “de esquerda” (toma muitas, só que disfarçadas de direita), o que permitirá ao senhor Louçã dizer que se “alteraram as circunstâncias” e que, “nesse caso”, já pode ser ministro.
Bem visto, não é?
Aldrabuço mas espertalhuço.
António Borges de Carvalho
* Sujeito indeterminado, terceira pessoa do singular. Não é “pagam”, é paga. Estes universitários…