DESVENTURAS DA BOLA
Quem não é técnico da bola
(vem à lembrança aquele inacreditável senhor que aparece na televisão cheio de inacreditáveis caracóis, de inacreditáveis gravatas, de inacreditáveis fatinhos e lencinhos, unha polida, camisinha mafiosa, que nos brinda com verdadeiras lições de bola, espécie de catedrático da coisa em alardes de científica retórica, com power point e tudo, lápis, pen drive, garatujos e frases, e sinto-me um pigmeu futebolístico sem sombra de sabedoria ou autoridade na matéria)
não devia meter-se em tal e tão metafísico assunto.
Helas, o vício da irritação é maior que a modéstia a que a ignorância devia obrigar. O Irritado é benfiquista e anda com a alma retorcida.
Olha para os últimos quinze anos do Benfica. Era presidente um tal Damásio quando o Benfica ganhou o penúltimo campeonato. Logo a seguir, zás!, despediu o treinador. Quando, 12 anos depois, voltou a ganhar, zás!, despediu o treinador.
Este ano, o Benfica começou a sua “preparação” para a nova época desfazendo-se do que havia de melhor na equipa (não digo plantel porque é uma palavra irritantíssima). Coisas que têm a ver com dinheiro, diz-se.
Vai daí, como é natural, viu-se à nora com o Copenhaga. Uma miséria. Mas tinha ganho ao Sporting, e o mesmo num torneio, já não sei onde. No Sábado, porém, empatou com um minhocas qualquer.
A actual direcção, mais expedita que as anteriores, despede o treinador por causa de um empate. Compreende-se. Se seguisse a tradição e o Benfica ganhasse o campeonato, teria que o despedir no fim da época. Assim, adiantou serviço.
E mais. Foi buscar um fulano, espanhol ainda por cima, que já andou pelo Benfica, não tendo deixado nada que se visse para acrescentar ás glórias.
Dizem os filósofos que não se deve voltar onde se foi feliz. Acrescenta a sabedoria popular que, onde se não foi, ainda menos. O que não augura ao espanhol futuro de maior.
Se é verdade que o autor destas linhas confessa sofrer da mais profunda iliteracia em matéria de bola, não menos verdade é que é legítimo temer que os dirigentes do seu clube tenham o mesmo problema. A diferença é que o Irritado não é ninguém no Benfica. Eles, sim. E é pena.
António Borges de Carvalho