Coelho, o obscuro
Nas mais recônditas profundezas da política portuguesa havia um senhor, de nome Coelho, que ninguém conhecia, mas que era perito em puxar cordéis por dentro do PSD. Um aparatchik, um profissional acabado. A certa altura, porém, alguém achou que o partido estava farto do fulano e deu-lhe um pontapé pela escada acima. O homem homem passou a frequentar aviões a jacto, e a mostrar-se nos corredores de Bruxelas e Estrasburgo. MPE, pois então! RH! Honorevole!
Até aqui, tudo bem. Um percurso impecável, comum a outras gentes. O pior é que o nosso Coelho tanto se mostrou, tanto trabalhou nos corredores - a sua especialidade - que acabou, calcule-se, em Presidente da Comissão Encarregada de Investigar os Voos da CIA que Transportavam Terroristas, Suspeitos e Similares para Locais Desconhecidos (não sei se é assim que se chama, mas tanto faz). Olaré. O nosso homem passou a ser importante. Ao fim de vinte anos, ou mais, de vida política, ei-lo que salta para as páginas dos jornais. Ele é declarações bombásticas. ele é lições de moral a estes e àqueles, ele é investigações, relatórios, comunicados, ele é a dona Ana - aplicada, e requentada discípula do camarada Arnaldo Matos - em histéricas declarações e aplausos, irmanada com o colega do PSD, em repenicada demonstração das virtualidades do Bloco Central(!!!???), ele é uma presença diária nos media, enfim, um fartote. Coelho aparece na CNN, na BBC, é citado no Financial Times, no Le Monde, no Herald Tribune! Um az!
A CEIVCTTSSLD produz o seu relatório, para gáudio dos novos Chamberlaines, dos comunas, dos BEs, da internacional bem-pensância, dos adeptos do senhor Castro, do senhor Il, do Amadinejá, do Hassad, do Laden e quejandos. Pois então! Parece que havia aviões de um aliado a ser abastecidos nos aeroportos dos aliados do aliado, sem que se soubesse exactamante, mas se pudesse calcular, quem eram os passageiros que transportavam. E, se fossem suspeitos de terrorismo, como os membros da CEIVCTTSSLD, e muito bem, achavam, então que se investigasse e punisse o hediondo crime de deixar passar, ou aterrar as aeronaves dos aliados do aliado nos respectivos aeródromos. Nem mais.
É que Coelho, o obscuro, tem que deixar de ser obscuro. Seja à custa do que for!
Por cá, o DN vem dizer que o senhor Pinto de Sousa (Sócrates) se está nas tintas para os ditames do senhor Coelho e da dona Ana. O DN enganou-se. No mesmo dia, o senhor Costa diz que não, que está à espera da formalização das coelhais exigências para, então, considerar. Mas que, acrescentou, o ilustre governo que temos tem dado todas as informações que lhe têm sido pedidas, pensa-se que pelo senhor Coelho.
A ver vamos os próximos capítulos desta desgraçada novela. Na certeza, porém, de que o principal objectivo da presidência da coisa (a CEIVCTTSSLD), ou seja , a saída de Coelho, o obscuro, das mais recônditas profundezas da política portuguesa - e internacional! - já foi brilhantemente conseguido .
António Borges de Carvalho