O TRABALHO É UM DIREITO
Há para aí quarenta anos, meti-me num táxi em Munique e resolvi exercitar o meu macarrónico alemão com o motorista. Palavra puxa palavra, e o jóvem acabou por me dizer que era jurista e que, não tendo encontrado emprego em que aplicasse os seus conhecimentos, andava na praça.
Conheço um americano, hoje próspero economista numa multinacional, que, no intervalo entre dois empregos, foi distribuidor de jornais e vendedor de hamburgueres.
Contaram-me que um padre inglês, estando sem paróquia por zanga com o bispo, fazia limpezas no aeroporto de Heathrow.
Conheço várias meninas e meninos, licenciados nas mais diversas e (às vezes) estrambólicas matérias, que, em Portugal, vivem do subsídio de desemprego porque não lhes aparece um emprego “compatível”.
Conheço vários empregadores cá do burgo que, com o maior prazer, contratariam uma menina ou um menino desses para tarefas menores. Mas não o fazem porque não há candidatos.
Conheço um sem número de agricultores que, respeitando as leis, contratam operários agrícolas da Moldávia, da Roménia ou da Ucrânia, licenciadíssimos. Não encontram um só português à procura de trabalho.
Esta coisa é, para todos os efeitos, um país de gente (muito) fina. Quando se diz que há não sei quantos mil jóvens licenciados no desemprego, deveria dizer-se que há não sei quantos mil jóvens licenciados que não aceitam os empregos que há, preferindo viver à nossa custa.
O trabalho é um direito. Por conseguinte, não é um dever.
E pronto. Assim vai o socialismo.
António Borges de Carvalho