Abominável Indecência
Há dias, declarou o ministro das finanças do governo Sócrates (Pinto de Sousa) que iria legislar no sentido de levantar o sigilo bancário aos cidadãos que apresentassem reclamações às finanças.
Na opinião de Sua Excelência, o cidadão que tiver a ousadia de pôr em causa as contas do seu departamento passa, automaticamente, a ser supeito das maiores trafulhices e a ver a sua vida financeira vasculhada pela polícia.
O que é que isto faz lembrar? Pensemos um bocadinho. Faz lembrar os engajadores de emigrantes que ameaçam as famílias dos clientes, que ficaram no país de origem, das piores perseguições caso não cumpram as suas ordens no país de destino. Faz lembrar as represálias da mafia. Faz lembrar métodos nazis e estalinistas. Faz lembrar uma data de coisas. Não, leitores, não faz lembrar o dr. Oliveira Salazar que, sendo um ditador repugnante, jamais se lembrou de uma destas.
O que aconteceu? Nada. Criticaram os jornais esta abominação? Não. Exgiram os partidos da oposição, os sindicatos, os media, a demissão do ministro, como aconteceria em qualquer país civilizado? Não. Publicou o primeiro ministro um desmentido, um pedido de desculpas, uma afirmação de lapso? Não. Apareceu algum "opinion maker" a condenar a abominação? Não.
Pelo contrário. Tudo continuou como dantes. O ministro lá está. A abominável proposta é capaz de passar mesmo a ser lei. A opinião pública, sedenta de se excitar com qualquer porcaria, está calma, tranquila, e é levada por aqueles a quem competiria alertá-la, a achar que voive no melhor dos mundos.
Onde vamos parar?
António Borges de Carvalho