UMA NOITE NO CIRCO
O Irritado não é apreciador de artes circenses. Razão pela qual não tem por hábito assistir às semanais saltimbanquices oratórias do mui ilustre professor doutor Marcelo R. de Sousa.
Ontem, porém, não resistiu.
O espectáculo prometia. Como é que a ínclita inteligência descalçaria a bota das previsões malucas que tinha feito nos jornais? Como é que justificaria que os erros fatais, na sua opinião cometidos pelo Menezes, afinal não eram erros? Como é que o habilidoso jongleur apanharia as bolas que, todas, se lhe escapavam das mãos, pondo em risco a universal fama que tanto o nobilita na pátria arena?
O espectáculo não desiludiu as expectativas do Irritado. Houve de tudo. A privilegiada mente brindou-nos com voos no trapézio, chicotadas nas feras, dialécticas de palhaço rico/palhaço pobre, girândolas de prestidigitador, acrobacias várias.
De substancial, e interessante, ficou a confissão de que, afinal, as massas pêpêdistas/ pêessedistas estavam longe de admirar a forma cirúrgico-cavaquista como o senhor Mendes deu cabo do partido, apoiou o golpe de estado constitucional do dr. Sampaio, atirou para o lixo a Câmara de Lisboa, apoiou a negregada reforma penal do senhor Pinto de Sousa (Sócrates), se baixou reptilmente às parlamentares arrancadas socialistas, distinguiu “arguidos bons” de “arguidos maus”, considerou que uma Câmara minoritária (8/9), sendo do PSD, é ingovernável, e que a mesma Câmara, também minoritária (7/10), sendo do PS, é governabilíssima, ignorou, como se de outrem se tratasse, os governos do seu partido, aldrabou sobre resultados eleitorais, etc. etc. etc.
As massas pêpêdistas/ pêessedistas afinal não são estúpidas. E, embora a solução que lhes era proposta não fosse grande espingarda, consideraram que a continuidade do Mendes seria uma indignidade sem nome. Parabéns. Preferiram a dignidade.
É claro que, para as altíssimas alturas da dourada cúpula do circo onde voa o douto lente, os ganhadores (nos quais, por evidente maldade, insiste em incluir Santana Lopes, miseravelmente injustiçado pelo mendo-cavaquismo) não passam de um bando de populistas, uma gente que se arrasta em infernos pântanos, a cósmica distância do sublime intelecto dos que, de há longo tempo, vêm aplicando o seu saber na destruição do PSD.
Lembro-me de um deputado do CDS, da linha moreirista, o qual, quando eu lhe dizia que, pelo caminho que levavam, se veriam reduzidos a quase nada, me respondia: antes nós, e poucos, do que eles, e muitos. Viu-se o resultado.
Mutatis mutandis, a filosofia é a mesma. Vale (ou valia) tudo, para que “eles” não ganhassem. Mas ganharam.
E agora, ó académicos, ó ideólogos, ó donos do saber e da verdade? Ides usar os vossos impagáveis talentos para ajudar o partido, ou ides continuar a pôr a vossa inveja e a vossa malquerença ao serviço do senhor Pinto de Sousa (Sócrates)?
António Borges de Carvalho