DOS ESTRAMBÓLICOS EFEITOS DO MARXISMO
O DN publica hoje uma esclarecedora entrevista como novo director do Museu das Janelas Verdes. Duas páginas. Oito colunas. Título imponente: “O Museu de Arte Antiga não tinha plano de exposições para 2008”. O que, nas palavras do novo director, “é sintomático” da ausência de investigação. Nefando crime.
Trocada a coisa por miúdos, não é bem assim. Estava planeada uma exposição de um escultor. Mas, como era de arte contemporânea (que não é “prioritária”) e chamava público ao museu, como temos “que nos concentrar nas colecções”, haveria, ou haverá, que fazê-la depender “do quadro financeiro”. Quer dizer, jamais terá lugar.
Agora, o que é preciso é “contratar gente” que proponha projectos de relacionados com as colecções”. Ou seja, venham os boys, que os que cá estão (“uma excelente equipa”) não dão as devidas garantias.
E a demitida dona Dalila? Nas palavras “da senhora Ministra” apostava “na comunicação”. Leia-se, falava demais. É claro que a senhora “fez um bom trabalho de comunicação e convocação de públicos”. Mas… “temos que ter conteúdos para comunicar”. Isto é, a dona Dalila comunicava inanidades porque não tinha nada para comunicar. Dizia coisas que, embora convocassem público, não tinham “conteúdo”. Leia-se, não tinham o conteúdo que a senhora Ministra queria que tivessem.
Depois, o senhor director diz que já descobriu que há “boas teses” “que se debruçam sobre peças da colecção” e que “permitem fazer boas exposições”. Vá-se lá entender. Afinal, mesmo sem contratar nenhum boy, há investigação. Tão boa que até dá para fazer exposições. Em que ficamos? Há investigação ou não há investigação?
Quanto às ditas exposições, “é prematuro” falar nisso. Com certeza. É que ainda faltam dois anos e tal para chegar o ano que vem. Não é?
Perguntado porque é que declarou, na sua posse, que o Museu “perdeu” o seu “papel de referência”, o senhor entra em considerações históricas, eventualmente judiciosas, mas não explica porque perdeu o museu tal papel, se é que perdeu mesmo ou que alguma vez o teve.
O senhor não faz a mais leve sombra de ideia do dinheiro que vai ter para contratar pessoal, fazer três exposições, lançar internacionalmente o Museu, fazer investigação, etc. blá blá blá. Mas está certo de “a senhora ministra tem consciência desta questão”. Além disso, vai recorrer à “sociedade civil”. Acho muito bem, mas dá ideia que foi no tempo dela (da dona Dalila) que a coisa começou. Foi mesmo, diz o senhor, mas, uma vez que foi tudo “negociado pela tutela”, mérito algum lhe caberá. Não é?
E a colecção Rau? Não foi no ano passado? Foi, confessa o senhor. Mas “foi um fenómeno excepcional”. Está bom de ver. Se foi excepcional, qual é o mérito da dona Dalila? E o “tapete oriental”? Isso deve-se ao antecessor da antecessora do senhor.
E pronto. Mesmo o que a dona Dalila terá feito, e que merece elogios, merece-os com vários “mas”.
Dona Dalila, concluirá quem ler, andou para ali a ganhar o ordenado ao Estado... e népias. Foi muito bem posta na rua.
Ou então, noutra leitura, reconhecer-se-á que o senhor director – qualquer coisa me diz que o homem é socialista ou pior - foi nomeado em nome de projecto nenhum, de orçamento nenhum, de ideia nenhuma. Foi lá posto porque a senhora ministra não ia à bola com a dona Dalila, e pronto. Foi muito bem nomeado.
De realçar é o critério, a inteligência, a pró-actividade (como se diz agora, sem se saber lá muito bem o que quer dizer), a preocupação com a cultura, ou seja, a estrambólica política da ministra do governo marxista, ou da ministra marxista do governo.
António Borges de Carvalho