DEMAGOGIA E PEDAGOGIA
O senhor Vitorino, pessoa respeitável e respeitada, jurista de qualidade, não tem, como é evidente, grandes qualidades de comunicador. O critério que justifica o seu espectáculo semanal na RTP tem a ver com razões de equilíbrio político que se podem compreender. De um lado o senhor Sousa (sousista tido por PSD), do outro o senhor Vitorino (PS propriamente dito).
O interesse da coisa perde-se na arenga monocórdica e professoral, o que faz com que aqueles que ainda não estão dispostos a adormecer prefiram zapar para paragens mais interessantes.
O habitual bom senso do soporífero senhor foi ontem perturbado pela eleição do senhor Menezes. Nervoso com uma eventual retoma da oposição, o homem perdeu a cabeça. Assustado com o “populismo”, ultrapassou o senhor Sousa e bateu o record dos comentários ao dizer que vem aí a “demagogia”, à qual o Governo do senhor Pinto de Sousa (Sócrates) terá que opor a “pedagogia”.
Numa manobra de antecipação, qual vidente esclarecido, o senhor Vitorino classifica desde já como demagogia que o PSD vier a fazer, faça o que fizer. E como pedagogia a infrene, desbragada e irresponsável propaganda socrífia.
Lapidar.
Na mesma noite, um canal qualquer mostrou o senhor Correia, guru do senhor Menezes, a definir populismo. Mais ou menos assim: o populismo acontece quando um líder utiliza o seu carisma e a sua capacidade de comunicação para fazer promessas que sabe não poder cumprir, ou tecer considerações que o público gosta de ouvir sem curar de as fazer corresponder à verdade.
Se o senhor Vitorino tivesse ouvido o senhor Correia, talvez não tivesse dito o que disse. É que a definição do senhor Correia assenta como uma luva no senhor Pinto de Sousa (Sócrates) e na sua propagandística “pedagogia”.
Pobres de nós, a quem não resta senão a esperança de que o senhor Menezes não mergulhe no populismo e na demagogia, já que esperança alguma resta de, a curto prazo, deixar de viver mergulhados na “pedagogia” do senhor Pinto de Sousa (Sócrates).
António Borges de Carvalho