NOTAS DE FIM DE SEMANA
CARTA ABERTA AO SENHOR GRANADEIRO
Exmº Senhor Granadeiro
A propósito da aliança da PT com a Telefónica na Vivo declarou Vossa Excelência, em genial arrancada:
“É mais fácil comer um pudim a meias do que um fardo de palha sozinho”
Notável demonstração de sabedoria!
O Irritado permite-se sugerir a Vossa Excelência, maravilha fatal dos nossos tempos, indiscutível caudilho comunicacional, a utilização de outras máximas de grande qualidade intelectual, tais como:
Mais vale ser rico e ter saúde do que ser pobre e doente
ou
Chuva em Novembro, Natal em Dezembro
ou ainda
A cavalo dente não se olha o dado
havendo algumas mais, do mesmo sábio conteúdo, que a propor se não atreve, dado o respeito mental e empresarial de que Vossa Excelência é justo credor.
Desconhecendo o sabor dos fardos de palha, o Irritado não se pronuncia sobre este aspecto dos hábitos gastronómicos de Vossa Excelência, mas deseja-lhe, do fundo do coração, as melhores digestões.
Saudações telefónicas
RESCISÕES
Em magnífica demonstração de patriotismo e de fair play, a prestimosa instituição que dá pelo petit nom de CGD resolveu rescindir o contrato de publicidade que tinha com o senhor Scolari, fundamentando-se no irreflectido acto praticado pelo dito senhor em resposta à agressão de um balcânico díscolo.
Seria óptimo que os desgraçados que recebem o ordenadinho adiantado por obra e graça da CGD lhe fizessem o mesmo, com fundamento na agressão que a brutalidade dos juros que pagam pela benesse sem dúvida representa.
EMPRESAS À PORTUGUESA
Com todo o respeito pelos simpáticos fabricantes de tintas da nóvel e conceituada empresa que dá pelo nome de “Euronavy”, o Irritado interroga-se sobre os dados estatísticos por ela comunicados ao respeitável público.
Vejamos:
O patrão é engenheiro químico, com pós-graduação em gestão.
Muito bem.
A empresa tem 34 colaboradores.
Muito bem.
Gasta 7% não se sabe de quê em I&D.
Óptimo.
33% dos quadros têm formação superior.
Aqui é que bate o ponto. Admitindo que um quadro enquadra 11 ou 12 trabalhadores (o que é pouco), teremos 3 quadros na empresa. Se 33% dos tais quadros têm “formação superior” e se o patrão (o mais alto quadro) é engenheiro, teremos que os 33% são integrados por ele. Assim, ou não há vivalma na empresa com formação superior – o que é o contrário do que a informação pretende inculcar nas nossas pobres mentes - ou teremos os doutores e os engenheiros a misturar tintas ou a lavar o chão - o que também não deve ser o que a publicidade pretende comunicar.
Não é?
Nada move o Irritado contra a “Euronavy”, antes pelo contrário. Mas é de temer pelas contas que apresenta, não é verdade?
INSPECÇÕES
Há 152 novos empregos no Ministério da Educação. Trata-se dos “inspectores”, subida espécie biológica que tem a função, como o nome indica, de “inspeccionar”. Inspeccionar o quê? Os professores. Você é bom, você não presta, você é lindo, você é uma besta.
Até aqui, tudo bem. Esgadanhem-se lá uns aos outros à vontade.
Mas, meus amigos, estamos em Portugal! Ainda antes de dar início à sua nobre actividade, já os ilustres inspectores, através do sindicato, andam aos gritos. Que é muito trabalho, que não aguentam, que se cansam, que, enquanto não forem admitidos mais polícias, perdão, inspectores, não farão nada, que a profissão tem que ser suspensa até novas admissões, que já estão cansados antes de começar, que trabalhar faz calos (as duas últimas são minhas), etc.
Ponhamos as coisas em pratos limpos. Havendo 152 inspectores para inspeccionar e 8.000 professores a ser inspeccionados, a coisa dá 52,63 professores por cada inspector. Havendo 235 dias de trabalho, se um inspector inspeccionar 3 professores por dia, haverá, num ano, 107.160 inspecções, o que dá mais de treze inspecções/ano por professor.
Se 3 inspecções por dia é demais para os inspectores, vou ali e já venho.
Se 13 inspecções/ano por professor não chegam, ali vou e já venho.
Isto de trabalhar, em Portugal, como é um direito, não obriga ninguém.
António Borges de Carvalho