RODRIGUICES
Lembro-me bem das reportagens sobre a guerra na Sérvia, feitas ou relatadas pelo senhor Rodrigues dos Santos na RTP.
Conheço uma boa dúzia de sérvios, de várias tendências políticas. Posso assegurar que, nem o mais crítico de tal guerra, tem, contra a NATO ou contra os EUA, a mesma odienta sanha demonstrada, à altura, por aquele senhor.
Lembro-me, como se fosse hoje, da entrevista que fez a um enviado da RTP ao teatro de operações. O homem estava algures nos campos, visivelmente aterrorizado. Ao longe, ouvia-se uns rebentamentos. Ao fundo da imagem, via-se um túnel. A certa altura, uns aviões sobrevoaram o local e desataram largar bombas. O terror do homem, aliás justificado, era imenso. Emocionante reportagem! O senhor Rodrigues dos Santos faz então, ao seu colega, esta pergunta: “achas que os aviões estão a bombardear o túnel, ou que querem aniquilar os profissionais da RTP?”
Imagine-se a cena: algures, quem sabe se em Bruxelas, ou em Washington, um general recebe a informação da presença da RTP no campo de batalha. O chefe da esquadrilha é imediatamente instruído para deixar de se preocupar com túneis, pontes, estradas, ou seja o que for. O mais importante, no terreno, era a reportagem da RTP!
Depois dos emocionantes dias de tal guerra, e de tal reportagem, nunca mais fui à bola com o senhor Rodrigues dos Santos. Quando o fulano pisca o olho aos espectadores, fico histérico. Quando ele diz, de dedo espetado “especialmente para si” tenho vontade de o trucidar.
Não sei o que o tipo andou a aprender na BBC, mas tenho a certeza de que não foi a fazer noticiários generalistas de uma hora, nem a pôr, em prime time, as doutas declarações da cunhada da vizinha do primo por afinidade do tipo que deu duas facadas à sogra. Nem foi na BBC, com certeza, que aprendeu a descrever por palavras suas as declarações das pessoas para, depois, pôr as tais pessoas a dizer o que ele já tinha dito.
Há, porém, uma coisa que me leva a tirar o chapéu ao senhor Rodrigues dos Santos. Zangado com a soberana decisão da administração de, contra a sua preclara opinião, mandar para Madrid uma senhora que lhe não agradava, o homem demitiu-se! Nobre atitude! Mas não se foi embora, isto é, recusou-se a desempenhar o cargo que lhe tinham dado, mas continuou, calmamente, a ser empregado da casa. Agora que o verniz estalou e que o senhor Rodrigues dos Santos resolveu fazer terríveis acusações, ficou a saber-se que, não só se demitiu sem se demitir, como que continua a receber um ordenadinho de 3.000 contitos por mês, coitadinho, e ainda conserva a devida margem para arranjar uma catraca que lhe vai render bom dinheiro se a RTP se quiser ver livre dele. Genial!!!
Também não foi na BBC que aprendeu estas coisas. É que, nos países civilizados, quando um tipo se recusa ao trabalho que lhe é legitimamente destinado, a solução é ir para a rua. É horrível, a “precaridade”, não é?
O governo PSD/CDS, pela primeira vez desde a criação da RTP, libertou a estação de grilhetas e influências governamentais. Para certa gente, foi um mau passo.
Nos tempos que correm, ainda não se sabe quem está feito com quem, mas sabe-se para quê. Os intérpretes da independência reconhecida pelo senhor Morais Sarmento têm os dias contados. Ou muito me engano ou vamos voltar a ter uma RPT atenta, veneradora e obrigada. E a pagá-la com língua de palmo.
António Borges de Carvalho