A REPÚBLICA DAS BANANAS
Não sei se vale a pena dizer alguma coisa sobre a já célebre entrevista que Sua Excelência o Procurador Geral da República deu a um jornal. Já se disse tudo, ou quase. Mas não ficaria bem ao Irritado se não se irritasse com a coisa.
Os cidadãos de um país (ou uma república, como agrada a certos ignaros que se diga) onde tão alta instância judicial diz que acha que tem o telefone sob escuta porque ouve uns barulhinhos, têm o direito de perguntar:
- Afinal, quem governa?
- Se as escutas são feitas por polícias e os polícias respondem perante o Primeiro-Ministro, então quem é que manda fazer as escutas?
- Se os fulanos que são pagos para nos “dar” justiça estão à mercê dos polícias do Primeiro-Ministro, então que justiça nos podem dar?
- Se já se chegou à kafkiana situação de os mais altos magistrados se andarem a escutar uns aos outros, de quem é a culpa?
- Se o Primeiro-Ministro, bem como o da Justiça, o da polícia, o Presidente da República, os juízes, ninguém tem nada a ver com isso, quem governa?
- Será a maçonaria? Qual delas?
- Se Sua Excelência o Procurador geral da República lança atoardas, porque não é, imediatamente, mandado para casa?
- E se tem razão? Pode mandar bocas assim, sem mais nem menos, sem investigar, sem apontar os culpados?
Enfim, estamos, por obra e graça da política socrélfia, metidos numa república das bananas qualquer, onde quem manda perdeu por completo a noção do que é a dignidade do estado, o que quer dizer a dignidade de todos nós.
António Borges de Carvalho