FLEXIGURANÇA
A luta continua. As mesnadas do senhor (Doutor!!!) Carvalho da Silva, acompanhadas de ilustríssimas personalidades da nossa praça, continuam a vir para a rua, para os jornais e para as televisões, com comentadores de serviço e políticos à la carte, manifestar a sua indignação sobre a “flexigurança”, obstruso palavrão que na Dinamarca quer dizer uma coisa, por cá a coisa contrária e, noutras paragens, o que se quiser.
Facto é que, na Dinamarca, onde o palavrão parece ter origem e onde não há salário mínimo, nem indemnizações por despedimento, nem nenhuma dessas tralhas que, em nome do “estado social”, arruinam as economias e desincentivam a produtividade, a flexigurança é um conceito que procura dar mais protecção ao emprego, sem prejuízo de o dito ser considerado como um passo, não como uma situação adquirida e inultrapassável.
Por cá, a coisa quer dizer exactamente o contrário, isto é, como o emprego é considerado um direito que a todos assiste, não uma obrigação em relação à sociedade, flexigurança significa, ou pode vir a significar, que cada um tenha que passar a encarar o trabalho e o emprego como um degrau de uma carreira, não como um patamar onde se assapa para o resto da vida.
Ao aplicar-se a duas sociedades que estão a cósmica distância uma da outra, uma em que a qualidade do trabalho é paga, outra em que se paga um conceito abstracto, uma em que a economia é florescente (et pour cause…), outra que vegeta tristemente à luz de “direitos sociais” que não tem meios para pagar, a flexigurança acaba por querer dizer coisa nenhuma e por constituir, num lado, um certo avanço na segurança e, noutro, um recuo no que se julgava ser o sétimo céu: ter trabalho e ganhar dinheiro pela simples razão de ter nascido.
Entretanto, o senhor (Doutor, caraças!!!) Carvalho da Silva vai tendo motes para arregimentar as “massas”. O seu objectivo não é, nunca foi, melhorar a vida das pessoas, mas contestar a democracia “burguesa” até a conseguir destruir, que é o que manda o PC.
A malta vai assistindo, a economia encolhendo, a pobreza avançando, e o senhor Pinto de Sousa (Sócrates) anunciando ao orbe as maravilhas da flexigurança.
Não é no Reino da Dinamarca que algo está podre. Shakespeare enganou-se.
António Borges de Carvalho