FIDELIDADES
Pacheco Pereira é um intelectual digno de respeito.
Mas é, também, um político. Um político filiado num partido. Não tem aspirações à liderança. Não chefia uma “tendência”. Não faz parte de nenhma estrutura partidária. Não se candidatou, nem diz querer candidatar-se seja ao que for. Estará no seu direito.
Daí a fazer, desde há vários anos, sistematicamente, oposição ao seu próprio partido, vai uma enorme distância. Se a filiação partidária não significa, nem deve significar, castração intelectual ou puro seguidismo, não deve, outrossim, consubstanciar-se em permanente quão virulenta crítica àqueles de quem se diz ser companheiro. A devastação causada no PSD por vários dos seus próprios membros – à cabeça de todos, politicamente, Cavaco Silva, e, intelectualmente, Pacheco Pereira – é, de um ponto de vista ético e democrático, pelo menos condenável.
Cavaco já teve o almejado prémio. Quase fez o pleno do bloco central: é Presidente da República.
Não se sabe o que Pacheco Pereira pretende como prémio, se Raquel, se Lia, se só servir Labão, seja ele quem for. O que se sabe é que quem quer ser tão independentemente crítico não deve ser parceiro de quem passa a vida a demolir. Se quer ser parceiro, então devia ter a prudência necessária para utilizar a força dos seus argumentos em sede outra que não a praça pública. Pelo menos por sistema.
Um problema de consciência que deixo à consciência do visado.
António Borges de Carvalho