PERSEGUIÇÕES
Em Portugal, o dictat americano “no smoking” tem a tradução “não fumadores”.
Transforma-se uma norma que proíbe a prática de um acto num local determinado na proibição da entrada de certas pessoas em tal sítio. Lapidar! Quando um fumador entra no metropolitano, é informado por escrito que não lhe é permitido entrar: pois se o metropolitano é para “não fumadores”, o que está lá a fazer um membro de tal e tão horrível classe? O que lhe é proibido não é fumar, mas entrar, estar, existir.
Não, não se trata de uma questão semântica, trata-se de um tipo de mentalidade, da mesma que publica nos jornais os rendimentos das pessoas, da mesma que põe a quebra do sigilo bancário nas mãos dos escriturários das finanças. A mentalidade “moderna”, “ocidental”, “democrática”, que resolveu apoderar-se do céu e do inferno, e impor a cada um os mandamentos de um putativo caminho para a “saúde”, o “fitness”, a “magreza” e quejandas coisas, sem o cumprimento dos quais o cidadão, “legitimamente”, é privado das suas pequenas liberdades e se transforma num ser repugnante, indigno e anti-social.
Pulido Valente lembrava, aqui há dias, que Hitler não fumava, nem bebia. Cunhal também não, registe-se.
Churchil, esse, fumava e bebia, e muito.
Quem quiser, escolha.
António Borges de Carvalho